A Idade da Discrição (A Mulher Desiludida) Livros

A IDADE DA DISCRIÇÃO (A MULHER DESILUDIDA)- Simone de Beavouir

12:02Kellen Pavão

SINOPSE:

Em "A Idade da Discrição" Simone de Beauvouir traz à tona as angústias de uma escritora, casada, mãe de um filho que se vê envolta em uma crise existencial e no medo constante de enfrentar sua velhice e seu futuro. No decorrer da novela suas aflições se acentuam, comprometendo seu relacionamento com o marido e até mesmo com o filho.

MINHAS IMPRESSÕES

A Idade da Discrição é um dos três contos que integram o livro A Mulher Desiludida (novela que dá nome ao livro), contendo ainda um conto chamado Monólogo. As histórias são independentes, e por esta razão achei mais interessante falar de todas separadamente, começando hoje com o primeiro conto: A Idade da Discrição.

Escrito por Simone de Beauvoir, considerada um ícone do feminismo, entendemos o porquê da escritora ser assim considerada. Beauvoir traz à tona as angústias de uma mulher madura que teme o futuro e à velhice, e através de seu conto nos revela muitos conflitos que integram o universo feminino.

A história conta a rotina de um casal maduro, estudioso, independente, politizado e de vertentes esquerdistas, que buscam lidar com frustrações e a velhice que se aproxima. A mulher é uma escritora casada com André, um intelectual cada dia mais descrente de sua produtividade e contribuição científica. O casal possui um filho chamado Philippe, que sempre teve uma forte ligação com a mãe mas se mostra cada dia mais distante após relacionar-se com Irene.

A escritora escreve e publica um livro, que acaba tornando-se alvo de inúmeras críticas. Isto abala sua confiança, já que depositou em seu livro as esperanças de revigorar-se com seu possível sucesso. Para tornar tudo ainda mais difícil, André, seu esposo, mostra-se cada vez mais distante e Philippe abre mão de seu doutorado e de sua carreira acadêmica para ocupar um cargo no Ministério da Cultura, oferecido por seu sogro.

Ao ver seu filho aliando-se ao governo e abandonando a carreira com a qual ela sonhou, sua confiança é abalada e ela fica cada vez mais frustrada e só. Neste momento é tomada pela angústia, medo da velhice, do futuro, do esquecimento, além de sentir-se inútil.

Esta parte do livro foi extremamente angustiante pra mim, e confesso que me envolvi e compreendi muitas de suas frustrações. Suas angústias são reais, fez e fazem parte da vida de muitas mulheres, afinal de contas, não é fácil lidar com a solidão, as mudanças no corpo, com o envelhecimento e principalmente com o medo da morte. Ao questionar tudo isto, seu relacionamento, o rompimento com Philippe e sua crise profissional endurecem sua forma de ver a vida e iniciam um processo depressivo.

O interessante é que este conto é quase autobiográfico e revela muito do que Simone de Beavouir e Jean Paul Sartre (seu esposo) passaram, como por exemplo o sentimento de traição ao verem o filho optar por uma vertente conservadora e contrária aos seus ideais políticos.

Somos levados a refletir de forma despretensiosa, já que o conto não é nada determinista e e Simone não se propõe a ditar nenhum tipo de moral  para a história., sem determinismos. A novela é mais melancólica que dramática, e somos presenteados com inúmeros e angustiantes questionamentos que são um retrato da vida de Beauvoir, narrados através de sua escrita inebriante e envolvente. É um conto maravilhoso, que recomendo à todos, principalmente àqueles que pretendem conhecer um pouco mais sobre trabalhos que influenciaram o feminismo! 

TRECHO DO LIVRO:

"Sempre olháramos longe. Seria necessário aprender a viver o dia-a-dia? Estávamos sentados lado a lado sob as estrelas, tocados pelo aroma do cipreste, nossas mãos se encontravam; o tempo havia parado por um instante. Iria continuar a escorrer. E então? Sim ou não, poderia ainda trabalhar? Minha raiva contra Philippe se esfumaria? A angústia de envelhecer me retomaria? Não olhar muito longe. Longe seriam os horrores da morte e dos adeuses. Seria a dentadura, a ciática, as enfermidades, a esterilidade mental, a solidão em um mundo estranho que não compreenderíamos mais e que prosseguiria seu curso sem nós. Conseguiria não levantar os olhos para esses horizontes? Quando aprenderia a percebê-los sem pavor? Nós estamos juntos, é a nossa sorte. Nós nos auxiliaremos a viver essa derradeira aventura da qual não retornaremos. Isso no-la tornará tolerável? Não sei. Esperemos. Não temos escolha."






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