Matérias Literárias

MATÉRIAS LITERÁRIAS: Conheça o polêmico e banido livro infantil que fala sobre Homossexualidade

10:33Isabela Lapa


O colega de quarto do papai (Daddy’s Roommate) é um livro escrito e ilustrado por Michael Willhoite. Foi publicado em 1991, originalmente em inglês, e passou por diversas traduções – ganhando versão até mesmo em alemão. Chegou a ser banido da lista de livros em escolas nos Estados Unidos, mas voltou ganhando o título de “livro mais desafiador” segundo a ‘American Library Association’.


Um favorito dos mecanismos de censura, o livro infantil sobre pais homossexuais tem sido um assunto delicado e desafiador em livrarias públicas, desde sua primeira publicação. Nesse livro ilustrado, destinado às crianças entre 2 a 5 anos, um menino apresenta a rotina de seu pai e seu ‘amigo’ Frank. O pequeno narrador inicia a história com o divórcio de seus pais e prossegue com a chegada de um novo hóspede na casa de seu pai: outro homem. O texto é direto e esclarecedor, e seu formato – frases curtas embaixo de ilustrações que ocupam toda a página – o torna acessível e compreensível ao público esperado. ‘Daddy’s Roommate’ foi um dos primeiros livros infantis a apresentar o cotidiano de uma relação homossexual de uma maneira positiva; o casal faz simplesmente o que a grande maioria dos casais heterossexuais fazem: cuidam da casa, da criança, demonstram afeto e até mesmo discutem algumas vezes.

Em 2008, o New York Times surgiu com rumores de que Sarah Palin (candidata a Vice-Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, no respectivo ano), enquanto prefeita de uma cidade do Alaska, pedia que os bibliotecários da cidade removessem certos livros das prateleiras. O Colega de Quarto do Papai estava na lista. Testemunhas declararam:

“Em 1995, a Sra. Palin disse aos seus colegas que notou o livro Daddy’s Roommate nas prateleiras e que ele não pertencia àquele lugar. A Sra. Chase [administradora da campanha de Palin] leu o livro, o qual ajuda as crianças a entender a homossexualidade, e disse que era inofensivo; sugerindo, então, que Palin o lesse”.

“Sarah disse que ela não precisava ler aquele tipo de coisa,” disse a Sra. Chase. “Foi perturbador o fato de que alguém quisesse remover da Biblioteca um livro que não chegou ao menos a ler.”

Em outro caso, no ano de 2005, o recém-eleito “Conselho Escolar de Centerville”, em Indiana, sentiu a necessidade de “proteger seus estudantes da exposição e do acesso a materiais controversos”. O Conselho decidiu banir os seguintes livros de seu sistema: Daddy’s Roommate, de Michael Willhoite, Heather Has To Mommies (Heather Tem Duas Mamães), de Leslea Newman, Entendendo a Identidade Sexual, de Janice Rench e Huckleberry Finn (sim!), de Mark Twain.

A política incluía não apenas a remoção dos livros das bibliotecas da escola, mas, também, a proibição de seu uso no currículo e chegava, inclusive, a proibir estudantes e professores de aparecer com algum deles na propriedade escolar (oi?).

O banimento de livros (de grades escolares, de bibliotecas, e até mesmo de alguns países) sempre se mostrou como uma questão extremamente controversa. São variados e indefinidos (diria até ilimitados) os pretextos que podem ser usados para o banimento de livros, tendo entre eles: satanismo, pornografia, distorção de valores, linguagem ofensiva, conteúdo violento e, até mesmo, apresentação de cenas de aborto, conteúdos “anti-família” e ocultismo. Independente do tema – e do pretexto – a controvérsia ainda se mantém: é realmente justificável ou correta a censura? Não estaríamos negando o caráter subjetivo dos livros (no qual o conteúdo nem sempre será levado ao pé da letra) e atentando contra a liberdade de expressão? Quanto a isso temos um dedutível consenso: sabemos que banimentos possuem um viés político, geralmente conservador.

O que justifica a resposta de Michael Willhoite a Sarah Palin:

“Posso dizer agora que a Sra. Palin é uma ótima mãe e tudo o mais. Mas ela é minha inimiga mortal,”Willhoite disse ao ‘Huffington Post’, em 2008. “Ela é uma das inimigas da Primeira Emenda e eu mal consigo… [organizar] meus pensamentos…, estou muito ofendido.”

- Esse tipo de historia é apropriado para crianças?

Quando crianças, os livros e as histórias possuem um papel inegavelmente importante (senão essencial) para a formação do nosso futuro papel e da nossa futura inserção como indivíduos. Com eles, normalizamos situações e aprendemos conceitos e valores básicos – como com as famosas lições de moral, que nos ensinam o “certo” e o “errado” e algumas das grandes virtudes. Desde cedo mergulhamos nas teorias dos relacionamentos (com os contos de fadas e romances), que vemos refletidos na relação dos nossos pais e mães ou de adultos que nos cercam.

Mas como seria a assimilação e a compreensão das crianças com uma família mais “única” e tão pouco representada? O livro, de uma maneira sutil e delicada, aborda essa questão.

Deixando a discussão sobre a homossexualidade de lado, não podemos negar o papel de formação consciente da criança que o livro exerce. Se essas relações existem, merecem ser retratadas, também positivamente, para, além da compreensão, desenredar o respeito. As crianças com pais homossexuais também merecem ver em cores vibrantes, coloridas e animadoras, situações que incluam seus pais e suas mães – assim como crianças de pais heterossexuais o fazem.

Será que um livro, cuja mensagem principal é que “amar é a única maneira de alcançar a felicidade”, é assim tão ofensivo?

Será que o livro de Michael é assim tão perigoso ou ofensivo?

Seguem imagens do livro [todos os direitos reservados ao autor] para que sejam tiradas conclusões próprias.


















Este post foi elaborado por Lorena Robinson,15 anos, cursando o Ensino Médio. Sonha em brincar de passarinho e conhecer o mundo. Enquanto isso, conheceu a arte, a literatura, o cinema e as Ciências Humanas, e aprendeu a passarinhar por vários mundos diferentes. É apaixonada por metáforas, simbolismos e poesia.



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9 comentários

  1. Ótimo post! é aquela coisa de tentar esconder o sol com a peneira em vez de procurar soluções para educar e conscientizar a sociedade sobre as diversidades que existem no mundo.

    Afinal, como o texto diz, o importante é a forma de amar.

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    1. Thiago, a Lorena realmente elaborou um excelente texto. A sociedade precisa aceitar as diferenças e respeitá-las. Se quiser conhecer outros textos dela pode acessar o Literatortura. Ela é colunista do site.

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  2. Nossa, mas o texto é muito leve, não é agressivo e muito menos dramatico como muitos pensam, eu gostei acho que deveria ser assim dessa forma que deveria ser passado para as crianças e também adultos um tanto relutantes, a aceitar uma condição social e sentimental diferente deles, e assim com respeito e sem preconceitos.
    ^^

    Adorei, bjs

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    1. Oi Roberta, tudo bem? Com certeza a iniciativa é válida, afinal, a sociedade tem que aceitar as diferenças e ensinar o respeito ao próximo, não é mesmo?

      Abraços e obrigada por participar!

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  3. Gostei do post, mostra como é simples explicar, acho que não serve apenas para crianças mas também para certos adultos que não aceitam a condição de viver e amar que o próximo tem.

    Parabéns pelo post e acho uma boa divulga-lo ^^

    bjos

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  4. Parabéns Lorena pelo belo e corajoso post. Um assunto que devemos tratar de forma natural. Pois o mais importante é AMAR e SER AMADO. E penso que o texto é para todos aqueles que são preconceituosos, devemos respeitar as diferenças. Como eu digo " a vida seria sem graça se só existisse a cor branca" certo? Abraço e que DEUS a abençoe pela sua coragem e maturidade.

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    1. Oi Agnaldo, tudo bem? É exatamente isso que eu penso!
      Respeito ao próximo é a chave de tudo!

      Obrigada por participar conosco, passe sempre por aqui!

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  5. Amo esse livro! :)

    Abraço,
    Sergio Viula

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    1. Oi Sérgio, tudo bem? Ficamos muito felizes em saber que nossas postagens estão de acordo com os gostos dos nossos leitores!

      Obrigada por participar da página e passe sempre por aqui!

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