A sua vida emocional foi conturbada e envolveu vários noivados e amores infelizes, fatos que acentuaram o sentimento de solidão e desamparo sofrido na infância. 

Esse híbrido de ironia e lucidez, inclusive, aparece na maioria dos textos de Kafka. Suas obras também conseguem formalizar e abrigar leituras totalmente relacionadas com a condição do ser humano moderno. 

Os seus contos são julgados como verdadeiros e realistas, em contato com o homem do século XXI, pois os personagens apresentados sofrem de conflitos existenciais, como o homem de hoje. Em regra, eles não sabem que rumo podem tomar, não sabem dos objetivos da sua vida, questionam seriamente a existência e acabam sós, diante de uma situação que não planejaram, pois todos os acontecimentos se viraram contra eles, não lhes oferecendo a oportunidade de se aproveitar da situação e, muitas vezes, nem mesmo de sair dela. Por isso, a temática da solidão como fuga, a paranoia e os delírios de influência estão muito ligados às suas obras, sendo comum a existência de personagens secundários que espiam, e conspiram contra o protagonista (geralmente homens, à exceção de alguns contos onde aparecem animais e raros onde a personagem principal é uma mulher). No fundo, estes protagonistas não são mais que projeções que Kafka se utilizava para expor os seus medos, a sua angústia perante o mundo, a sua solidão interior e sua problemática em lidar com a família e o círculo social.

Além disso, o olhar kafkiano também era direcionado para coisas como a opressão burocrática das instituições, a "justiça" e a fragilidade do homem comum frente a problemas cotidianos.

O  primeiro livro de Kafka foi "Consideração", publicado em 1913. No entanto, as suas obras mais famosas foram escritas entre 1913 e 1921 e são: "A Metamorfose", "O Processo", "O Castelo", "O Foguista" (que é na verdade o primeiro capítulo de "América"), "A Sentença" e "O Artista da Fome".

As histórias criadas por esse judeu tcheco que escrevia em alemão deram voz ao indivíduo que caminha nas ruas das grandes cidades contemporâneas. O personagem Gregor Samsa, de Metamorfose por exemplo, é o homem tornado inseto frente à realidade urbana avassaladora, burocrática e tão cheia de gigantismos. Samsa reproduz a sensação do homem que virou o inseto insignificante das cidades modernas e que, quando em vez, morre aos milhões nos campos de guerra. 

Nenhum autor representou de forma tão contundente a modernidade. Segundo o crítico literário George Steiner, "o extremismo da posição literária de Kafka (...) torna a estrutura representativa e a centralidade de sua façanha mais notáveis. Nenhuma outra voz foi testemunha mais verdadeira da natureza de nossos tempos." 

Para ler Kafka são necessários alguns cuidados especiais, entre eles, contar com uma certa atenção à maneira com que toda obra se constrói, principalmente seus períodos; estar sempre consciente de que toda a criação literária de Kafka foi dolorida, feita com o intuito de não parecer bonita, de ser, principalmente, uma obra baseada na dor; ficar atento a todos os detalhes do texto, pois em Kafka, até as imperfeições são propositais, ou seja, segundo Theodor Adorno, até "as deformações em Kafka são precisas".

Durante sua vida ele nunca conseguiu atingir grande fama com seus livros, porém, algum tempo depois de sua morte (que ocorreu no dia 3 de junho de 1924, em um sanatório perto de Viena, onde internara-se por causa de uma tuberculose), a sua obra literária atingiu enorme influência sobre as pessoas e passou a ser cultuada por leitores de quase todo o planeta.

O número de livros sobre Kafka é hoje incalculável, talvez vários milhares incluindo todas as teses de mestrado e doutorado. Alguns porém são fundamentais, sendo que hoje, vários já estão traduzidos para o português.

No blog nós já falamos sobre "A Metamorfose" e sobre "O Processo". Sempre que possível falaremos dos seus livros, que são muito admirados por nós.