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NOTÍCIAS: George R.R. Martin, o ‘senhor dos Tronos’, na primeira entrevista ao Brasil.

20:24Isabela Lapa

Raquel Cozer, colunista do site Folha de São Paulo conseguiu no mês de maio a primeira entrevista com o genial George R. R. Martin, escritor do fenômeno A GUERRA DOS TRONOS.


Segundo Raquel, "Seria apenas meia hora de conversa por telefone e o assunto não poderia fugir muito de “Wild Cards”, série coletiva sobre super-heróis que George R.R. Martin edita e na qual escreve desde os anos 1980".

No entanto, ao longo da conversa, percebemos que ela conseguiu encaixar muito bem perguntas acerca das Crônicas de Gelo e Fogo e também acerca da série da HBO. 

Confiram:




O sr. se tornou escritor devido ao interesse por quadrinhos, como costuma dizer, e em “Wild Cards” o sr. leva os super-heróis dos quadrinhos para a literatura. Como é usar na literatura um tema tão característico das HQs?

George R.R. Martin - Bom, nós buscamos, nos livros, fazer uma abordagem mais realista. Para começar do básico: eu amo quadrinhos, cresci lendo quadrinhos, mas há muitas convenções no formato que não fazem sentido quando você pensa nelas. A noção de que alguém que consegue superpoderes vai imediatamente comprar uma roupa de spandex e combater o crime. Não acho que isso funcione. No mundo real, se você conseguisse superpoderes, se eu tivesse a habilidade de voar, bem, provavelmente eu ainda seria um escritor, com a diferença de que não andaria mais de aviões. Isso iria mudar minha vida, mas não como acontece nos quadrinhos.

Então essa foi a situação quando pensamos no básico. Partimos da premissa: ok, depois da Segunda Guerra, algumas pessoas conseguiram superpoderes. Poderes e habilidades que vão muito além daquelas dos simples mortais. E começamos a pensar como o mundo seria transformado, como a vida das pessoas atingidas seria transformada.

Outra diferença entre “Wild Cards” e outras histórias de heróis é que a série lida mais diretamente com a história real e, conforme ela passa, muda seus rumos.
Sim, o realismo nos fez colocar os super-heróis no tempo real, interagindo com o mundo real. Por exemplo, eu lembro, quando era garoto, que estava na escola e apareceu o Homem-Aranha. Ele estava no ensino médio, igual a mim. Houve uma identificação imediata, e pude entender problemas pelos quais ele estava passando. Então me formei no ensino médio e entrei na faculdade, e o Homem-Aranha terminou o ensino médio e entrou na faculdade, Peter Parker fez isso. Estávamos mudando.

Mas saí da faculdade em quatro anos, e o Homem-Aranha levou uns 20 anos para se formar. E, depois que saiu da faculdade, ficou preso naquela coisa de ser um cara de 20 e poucos anos que tinha acabado de sair da faculdade. E ficou um tempo casado, e depois não estava mais casado, disseram que o casamento nunca tinha acontecido. Você pega um livro do Homem-Aranha hoje e ele ainda tem lá seus 23 anos e saiu da faculdade poucos anos atrás. Lembro ter lido livros do Homem-Aranha em que ele estava envolvido em demonstrações dos anos 1960 conta a Guerra do Vietnã… Obviamente, o tempo dos quadrinhos não faz o menor sentido. Ele era da minha geração e agora é parte de uma geração muito mais jovem.

O Superman veio à Terra nos anos 1920, eu acho, e aterrissou pequeno e se tornou o Superman público no final dos anos 1930, mas, agora, se você lê os livros, ele veio à Terra em 1995 ou algo assim. Os criadores ficam revisando a história para mantê-los eternamente jovens, e essa é uma armadilha na qual decidimos não cair em “Wild Cards”. Queríamos fazer algo mais ligado ao tempo real. Heróis que conseguiram seus superpoderes em 1946, data do primeiro “Wild Cards”, e tivessem 20 anos naquela época, bem, agora eles estão aposentados, estiveram casados, têm filhos e casaram de novo e seus filhos cresceram. Eles tiveram todo tipo de problema que as pessoas têm ao longo da vida. Ser superforte ou lançar raios pelos dedos não eliminam os problemas que as pessoas têm na vida real.

E como surgem esses novos heróis com o tempo, à medida que os outros envelhecem?

Isso depende. A genética de “Wild Cards” é complicada. É uma mudança na estrutura genética e se torna uma… Se os dois pais têm o vírus do “Wild Cards”, então a criança seria um Carta Selvagem [na tradução da LeYa, embora o título do livro seja em inglês, os infectados recebem no texto o nome em português], mas poderia também morrer, porque 90% das pessoas que pegaram o vírus e tornaram Rainha Negra [gíria para morte usada nos livros], como dizemos, morrendo. E 10% viram Curingas [personagens que ficam deformados], só um em cem se torna Ases e acabam como super-heróis. O bebê infectado tem as mesmas chances de qualquer um, não é algo simplesmente herdado.

Os Curingas, nesse sentido realista, são importantes para tratar de questões como o preconceito, não?

Sim, sim. Muitas mutações não são boas. Queríamos dizer: ‘Sabe, se você sofresse uma mutação como essas dos quadrinhos, seria possível que isso não fosse tão bom, e isso é muito mais provável que uma mutação boa, inclusive’. Isso torna a história diferente de qualquer outra da Marvel, da DC Comics, Universal, a comunidade Coringa e a existência desse segundo time junto com os superpoderosos Ases, isso é algo que ninguém mais faz.

Acontece de um autor escrever para “Wild Cards” algo que o sr. acha que não vai caber na história como um todo e isso ser vetado? Como é escrever em equipe para um autor tão acostumado a escrever sozinho [como em "As Crônicas de Gelo e Fogo"]?

Isso acontece o tempo todo. Vem acontecendo há 20 anos, e por isso sou necessário como editor. Os autores escrevem suas histórias e meu trabalho principal, além de também escrever as minhas, é juntá-las. E há um grande trabalho de reescrita envolvido, porque as histórias nunca ficam perfeitas juntas de primeira. Às vezes, tenho autores que escrevem duas cenas que se contradizem ou que se duplicam, e essencialmente eu conduzo a sinfonia aqui, como se fosse uma “big band”, com todos os instrumentos e personagens funcionando juntos.

É um trabalho difícil. Editei uma série de publicações ao longo dos anos, mas o trabalho envolvido em “Wild Cards” é certamente o mais desafiador tipo de edição, simplesmente porque você tem que pensar em equipe e ao mesmo tempo conseguir boas histórias dos escritores. Criamos um mecanismo pelo qual o criador de cada personagem revisa o texto quando seu personagem é usado por outro escritor. Além de mim como editor, os escritores interagem. Então, se alguém vai usar um personagem meu, como o Tartaruga, posso dizer: ”Não, ele não diria isso dessa maneira”, ou “Ele nunca faria isso”. Muita reescrita. Mas, felizmente, a maior parte dos escritores faz o trabalho com muita vontade, adora escrever sobre esses personagens e esse universo.

Há algum personagem de outros autores que você gostaria de ter criado?

Provavelmente o Dorminhoco, que foi criado por Roger Zelazny, um amigo querido e um dos melhores escritores que a ficção científica já produziu. É muito original, parte do time original [personagens do primeiro livro]. O Dorminhoco é flexível, tem suas características, mas pode caber em praticamente qualquer história dos outros autores, às vezes como herói, às vezes não. E ele é um homem do nosso tempo. Ele vive em 2013, era um garoto quando o vírus chegou à Terra, em 1946, então ele se lembra de um mundo diferente. Toda vez que ele vai dormir, não sabe como vai acordar [se com poderes de Ás ou deformidades de Coringas] ou se vai acordar. É um personagem incrível, provavelmente o mais icônico do “Wild Cards”.

Atualmente a série está saindo em vários países, mas a maior parte das histórias se passa nos Estados Unidos. Não pensam em torná-la mais global?

A maior parte das histórias se passa em Nova York. Mas, de tempos em tempos… O quarto livro da série, chamado “Aces Abroad”, é um livro no qual os personagens fazem uma turnê mundial, visitam várias cidades. Acho que eles passam pelo Brasil, embora não tenham uma história aí. Mas temos uma história no Peru. E temos histórias no Oriente Médio, na Europa Oriental e Ocidental, no Japão. Depois, muitos volumes depois, aparecem histórias que têm uma base mundial. A série que começa com “Inside Straight”, volumes 18, 19 e 20, começa em Los Angeles, passa para o Egito e o Oriente Médio, e lá e personagens se envolvem com a ONU. Tentamos dar um sabor mais global. Soube que no Brasil pediram por esses livros, gostaria de sediar histórias aí. Isso seria divertido.

Os direitos de adaptação foram comprados pela Universal para o cinema. Em que pé está isso? O sr. lida bem com a ideia de transformar a série em um único filme, algo que não quis aceitar para “As Crônicas de Gelo e Fogo”?

Bom, Wild Cards não é bem uma história, são centenas de histórias, é um mundo. Esperamos que o primeiro filme conte uma história de um grupo particular de personagens, e, se fizer sucesso, o segundo filme pode ser com um time completamente diferente de personagens. E pode ser no passado, no futuro. Temos centenas de personagens e histórias. É uma franquia incrível, que funciona para uma série de filmes, que é o que esperamos conseguir, ou para uma série de TV, o que pode vir a acontecer se os filmes fizerem sucesso. Mas agora estamos no estágio inicial, Melinda Snodgrass [uma das autoras da série e coprodutora, com GRRM, do fillme] está escrevendo o roteiro, está no segundo rascunho. Estamos esperando.

Os leitores no Brasil o conhecem mais como autor de fantasia que de ficção científica. É diferente criar uma e outra?

Não há grande diferença. Em ficção científica, você tem aliens e naves espaciais; em fantasia, tem dragões e cavaleiros, mas de toda forma está contando histórias, e o coração de toda história, no passado, no presente ou no futuro, seja ficção científica, seja mistério, seja romance, o coração de qualquer história são os personagens. Se você tem bons personagens, que os leitores achem interessantes e com os quais se preocupem, sua história vai funcionar. Não importa o gênero.

William Faulkner, o grande escritor americano, uma vez disse que o coração humano em conflito consigo mesmo é a única coisa sobre a qual vale a pena escrever, e acredito nisso. Não acho que o gênero importe tanto.

Se o gênero não importa tanto, e considerando que o sr. gosta de histórias muito realistas, envolvendo questões políticas, violência, sexo, nunca pensou em escrever abrindo mão da fantasia?

Gosto de violência, sexo e política, é verdade [risos]. Mas fantasia, bom, eu amo a fantasia, ela permite usar a imaginação. Quando eu era criança, vivia uma vida de imaginação. Éramos pobres, não tínhamos dinheiro, não íamos a lugar nenhum. Vivíamos perto de um canal, e eu olhava a água, e eu via embarcações o tempo todo indo a Hong Kong ou Japão ou França ou Brasil, eu olhava para as bandeiras e imaginava quem estava naqueles navios. Daí começava a pensar também como seria estar em naves espaciais ou com aliens. É tudo imaginação. Amo ser levado a mundos fabulosos de maravilhas e cores.

O sr. ainda tem tempo para se dedicar a “Wild Cards”? Os leitores de “As Crônicas de Gelo e Fogo” permitem isso?

Bom, alguns ficam irritados. Mas, dito isso, hoje não escrevo muito para “Wild Cards”. Faço a edição, que é algo que demanda tempo, mas não tanto quanto escrever as histórias. Gostaria de escrever mais para “Wild Cards”, adoro esse mundo, adoro meus personagens nesse mundo, mas não posso até terminar as “Crônicas de Gelo e Fogo”. Essa é a minha prioridade, ainda tenho dois livros a terminar e isso vai me tomar alguns anos, e ainda tenho a série de TV vindo atrás de mim.

Como é a receptividade de “Wild Cards” entre os fãs? Eles não chegam a ser intensos como os das “Crônicas de Gelo e Fogo”, imagino.

Eles existem em menor número. “As Crônicas de Gelo e Fogo” são a coisa mais bem-sucedida que fiz, então tem mais leitores. Mas os fãs de “Wild Cards” também sabem ser intensos, formam relações com personagens diferentes. Odeiam alguns, amam outros, discutem quem venceria quem numa briga. É sempre interessante. No geral, adoro a intensidade dos fãs. Você quer que eles se importem, que discutam os livros e implorem por lançamentos. A pior coisa para um escritor é quando os leitores não se importam, o que é a triste verdade para a maior parte dos escritores.

Sobre a relação com fãs, o sr. já disse que prefere não ler o que eles escrevem, como as fanfics [histórias de fãs usando universos de um escritor], inclusive para não ser acusado de plagiá-los. Como lida com a ideia de que um dia deixará sua história de herança para outros, como aconteceu com Tolkien?

[pausa] Bem, algum dia, eu imagino, sim…

Digo, um dia num futuro distante, é claro.
Certo [risos]. Não me preocupo com o futuro distante. Acho que o presente me mantém ocupado o suficiente.

O sr. lida com muita pressão para terminar as “Crônicas”, há quem até tenha medo de que não consiga terminar o sétimo livro, dado que já se passaram mais de 20 anos desde que começou a escrever e ainda faltam dois títulos. O sr. costuma dizer que guarda na memória, mas não tem algo no computador, uma linha geral, algo que eventualmente sirva como base num futuro distante?

Tenho alguma coisa anotada, sei para onde está indo a história e estou seguindo isso. Não tenho todos os detalhes anotados, isso é algo que prefiro pensar à medida que escrevo. Essa é a aventura de escrever, quando os personagens e a linha da história vão para lugares não imaginados, mas sei as principais coisas que vão acontecer. Sou um escritor lento, reescrevo tudo. Não imagino que isso vá mudar, então as pessoas que ficam aflitas com a chegada dos meus livros vão ter que se acalmar e lidar com isso. Não posso ir mais rápido só porque estão impacientes.

Quando o sr. começou a criar “Wild Cards”, não se usava a internet. Com o tempo se popularizaram não só a internet como ferramentas de pesquisa, como o Google, e de organização. Há escritores que usam Excell, que nem é uma ferramenta nova, para se organizarem. Como lida com essas tecnologias?

Elas foram bastante úteis para “Wild Cards”, preciso dizer. Quando começamos, e estamos falando do início do início dos anos 1980, com o primeiro livro saindo em 1987, não havia internet. Muitos dos escritores nem computadores tinham, era tudo na base da máquina de escrever. Tínhamos de redigitar as histórias, e então havia ligações telefônicas, enormes distâncias a superar… Mas isso mudou com o tempo.

Na metade dos anos 90, vários de nós já estávamos na internet, e existia um serviço, que não existe mais, da General Electric, que tinha fóruns e mensageiros, nos quais você podia tratar assuntos privados. Criei diferentes tópicos sobre “Wild Cards”, e discutíamos ali, o que certamente era bem mais fácil que fazer ligações telefônicas e mandar pelo correio os manuscritos ao redor dos Estados Unidos. Agora, é claro, está tudo na internet, mandamos tudo por e-mail. Isso faz as coisas mais fáceis quando você trabalha em grupo.

Agora, com as “Crônicas de Gelo e Fogo” não uso nada disso. Sou só eu, sozinho, com meu computador, escrevendo histórias. Sim, quando termino posso mandar por e-mail ao meu editor, mas é algo muito básico para escrever. Não uso nenhum tipo alta tecnologia. Na verdade, faço a maior parte do meu trabalho num DOS [sistema operacional comum nos computadores até os anos 1990].

E também tenho algo que não chega a ser uma tecnologia nova, que é função de busca do computador, o que torna fácil encontrar detalhes como as cores dos olhos dos personagens. Tenho um arquivo gigante que contém todos os cinco livros e posso pesquisar neles para evitar contradições.

O sr. trabalha como consultor de “Game of Thrones”, série de TV baseada nos livros, sem poder de veto, até onde entendo. Como lida com as mudanças feitas pelos roteiristas, que estão mais comuns nesta terceira temporada? Há alguma solução deles que o sr. chegou a achar melhor do que o que estava no livro?

Bom, adoro a série de TV, mas gosto mais dos livros. Foi de grande ajuda para mim, em relação a série, o fato de eu ter trabalhado em TV por dez anos, nos anos 1980 e 1990 [foi roteirista das séries "Além da Imaginação" e "A Bela e a Série"]. Não trabalhava na criação, adaptava material de outros escritores. Então sei o tipo de alterações que são necessárias, em geral por questões práticas, como ter só uma hora por episódio, ter que encaixar tudo num certo orçamento.

O orçamento de “Game of Thrones” é grande na comparação com outros do tipo, mas ainda é um orçamento. Você não tem todo o dinheiro de que precisa nem pode contratar todos os atores de que gostaria. Com isso, personagens têm de ser combinados, outros têm de ser modificados, situações também. Temos dez episódios por temporada. Sempre disse que o ideal seriam 12 episódios, o que permitiria aproveitar mais personagens e situações que infelizmente ficam de fora, mas seria caro. Dez episódios é o que temos, e acho que fazem um trabalho excelente com isso. De algumas das mudanças eu gosto, por outras não são sou tão apaixonado. Mas entendo a necessidade de todas elas.

Pode dar exemplos de mudanças de que goste ou não?

Acho que as novas cenas que estão inventando para o programa estão funcionando, muitas são perfeitas, algumas das melhores da série estão nesses episódios. Sinto falta de algumas das cenas com o Mance [Ryder] ou diálogos que foram cortados. Algumas mudanças eu não faria. Fiz os livros por razões que eram minhas e prefiro na maior parte dos casos elas tal como estão nos livros.

Impressiona a dimensão geográfica e genealógica que a história toda tomou. Ela chega a fugir do seu controle?

Isso é uma razão por que demoro tanto escrever. A história foge constantemente do meu controle. Reescrevo muito, vou seguindo os personagens e às vezes eles me levam pelo caminho errado, então tenho que voltar e entender o que deu errado. E então reescre, coloco numa ordem diferente, até entender como deve ser.

O sr. usa com muita frequência os chamados cliffhangers [estratégia para prender o leitor ao final de cada capítulo]. Diria que é uma forma de arte?

Sim, definitivamente. Esses dez anos em que fiz televisão me ensinaram muito sobre isso. Não sei como é no Brasil, mas, na TV americana, os programas têm muitos comerciais. E é preciso que a cada ato, considerando que um programa tem de quatro a cinco atos em uma hora, exista o chamado “act break”, que pode ser um cliffhanger, embora não precise ser. Algo como uma revelação, um personagem que descobre algo, alguma coisa que impeça que o espectador mude de canal no comercial e que o faça pensar no que vai acontecer.

Essa é uma técnica boa, que prende as pessoas na história. Em “Game of Thrones”, mesmo não tendo intervalos, eu queria que cada capítulo terminasse com um “act break”. Alguma coisa acontecendo do final de cada capítulo, por exemplo, da Arya, que fizesse você imediatamente querer saber o que acontecerá no capítulo seguinte. Mas você não pode saber isso imediatamente, porque agora tem que ler um capítulo do Tyrion ou do Jon Snow. E então você lê o capítulo do Tyrion e ali acontece algo que faz você querer ler o próximo capítulo dele. O ideal é que funcione com todos os personagens. Não é uma técnica fácil, mas acho que tem funcionado.

Qual o sr. diria que é o tema central das “Crônicas” e o que elas refletem da visão que o sr. tem de política ou das sociedades atuais?

Um tema central é certamente a disputa de poder. As relações de políticas e de governos. Mas prefiro pensar menos em temas e mais em histórias individuais, o que nos leva de volta aos personagens, à questão do coração de que falou Faulkner. Estou mais interessado no que Jon ou Dany faria agora do que nas falhas das sociedades médias como um todo. Os personagens se tornaram muito verdadeiros para mim e espero que também para ao leitor.

O mundo é minha criação. Não estou interessado em criar uma alegoria ou fazer um comentário político ou social, mas inevitavelmente meus pontos de vista e minhas opiniões estão lá, porque eles fazem parte de mim.







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