Escritores Paulo Levy

ESCRITORES: Uma pequena "conversa" com Paulo Levy

11:48Universo dos Leitores


Paulo Levy, escritor dos livros RĂ©quiem para um assassino e Morte na Flip, grandes sucessos do mercado de livros policiais, exerceu diversas funções antes de publicar o seu primeiro livro: foi profissional de squash, redator publicitĂ¡rio, dono de agĂªncia, proprietĂ¡rio de bar etc. 

Em 2011 se lançou como escritor e os livros nos apresentaram o Delegado Joaquim Dornelas e histĂ³rias repletas de mistĂ©rio, suspense e criatividade. Tamanho o sucesso das obras que ele foi convidado para participar do SalĂ£o de Genebra neste ano e jĂ¡ estĂ¡ trabalhando no seu prĂ³ximo livro, com previsĂ£o de lançamento em 2014. 

Gostamos muito do trabalho do Paulo e, por tal razĂ£o, surgiu o interesse de conhecer um pouco mais sobre ele e saber o que ele pensa sobre livros, mercado nacional, e quais os seus projetos futuros. Como o encontro nĂ£o foi possĂ­vel, enviamos algumas perguntar ao seu e-mail e ele, sempre gentil e educado, nos enviou as suas opiniões.

Esperamos que gostem de conhecer um pouco mais esse escritor e que aproveitem para ler os seus livros. Quem quiser, pode ler acerca das suas obras clicando aqui. 

1) VocĂª jĂ¡ exerceu inĂºmeras profissões antes de se tornar escritor. Como surgiu a vontade de escrever?


Vontade eu sempre tive, uma vez que fui redator publicitĂ¡rio por mais de 15 anos e sentia falta de liberdade do formato limitado que a publicidade impunha. No entanto, faltava o assunto e a experiĂªncia para se escrever um livro. Tudo aconteceu numa viagem de fĂ©rias que fiz a Paraty em 2010. Diante da Igreja de Santa Rita, caminhando sobre a mureta, a beiramar, tive uma epifania: vi nitidamente a cena do crime de RĂ©quiem para um assassino. Na minha cabeça a coisa passou como um filme. Dali a começa a escrever foram cerca de 2 meses, entre refletir sobre o empreendimento e a pesquisa inicial.


2) Algum autor o motivou a se tornar escritor? Qual?

Ernest Hemingway, pela prosa seca e direta, e Paul Theroux, pelos relatos de viagem.


3) "Morte na Flip" Ă© um grande sucesso protagonizado por Joaquim Dornelas, um delegado que se assemelha ao famoso Sherlock Holmes. A que vocĂª atribui este sucesso?

A uma prosa direta, sem firulas, uma linguagem acessĂ­vel – recurso que aprendi na propaganda -, uma trama intrincada com tempero brasileiro e bons personagens. Livro algum se sustenta sem bons personagens.


5) O Delegado Joaquim Dornelas tem uma personalidade muito peculiar, descrita em muitos detalhes. Ele é inspirado em alguém com quem convive?

Em ninguĂ©m em particular e em muita gente ao mesmo tempo. Mas enquanto estou escrevendo, visto a roupa do Dornelas e encarno o papel. Tem muito de mim mesmo na personalidade do Dornelas. É difĂ­cil para um escritor nĂ£o se mostrar no personagem principal.


6) Seus livros falam do trabalho da polĂ­cia, da investigaĂ§Ă£o dos crimes e da burocracia do sistema. Foi realizada alguma pesquisa antes de escrevĂª-los? VocĂª contou com o apoio de alguĂ©m da Ă¡rea?

Sem o apoio inicial da PolĂ­cia Civil e do Corpo de Bombeiros de Paraty eu jamais teria encarado o desafio. Dado o pontapĂ©, conversei com policiais civis, advogados, papiloscopistas e legistas. Embora seja uma ficĂ§Ă£o, os procedimentos policias sĂ£o os mesmos usados no mundo real. Sem essa Ă¢ncora, a histĂ³ria fica solta, inverossĂ­mil.


4) VocĂª pretende escrever outros livros policiais? Podemos aguardar os lançamentos para quando?

Estou escrevendo o terceiro livro do Dornelas. JĂ¡ escrevi 10 capĂ­tulos. NĂ£o sei se vou conseguir terminar para lançar ainda este ano. Tenho tido pouco tempo disponĂ­vel. Mas de março de 2014 nĂ£o passa.


5) Estamos sabendo que os seus livros serĂ£o adaptados para o cinema. Como foi receber o convite? Como estĂ¡ o projeto? Existe alguma previsĂ£o para estreia?

NĂ£o houve um convite formal. Eu Ă© que fui atrĂ¡s. Adoro cinema e procurei dar uma linguagem cinematogrĂ¡fica aos livros por causa disso. O projeto estĂ¡ andando, mas como cinema no Brasil toma tempo, estamos indo um passo de cada vez.


6) Neste ano vocĂª foi convidado para a SalĂ£o do Livro em Genebra. Qual a sensaĂ§Ă£o de ver o trabalho reconhecido internacionalmente? O que a participaĂ§Ă£o neste evento contribuiu para a sua carreira como escritor?

É uma grande alegria sentar do lado de lĂ¡ do balcĂ£o depois de muitos anos com leitor e frequentador de eventos de livros. A alegria do contato com os leitores Ă© enorme, a troca de ideias Ă© muito estimulante. E ver como o Dornelas foi bem recebido pelo pĂºblico Ă© muito gratificante. A participaĂ§Ă£o no evento nĂ£o apenas ajudou a divulgar o meu nome no exterior como contribuiu para fortalecer meu nome por aqui. SĂ³ tenho a agradecer pelo convite. Que venham outros.


7) Na sua opiniĂ£o, qual o grande escritor da atualidade? E qual o maior clĂ¡ssico da literatura?

Dizer qual Ă© o grande escritor da atualidade Ă© o mesmo que dizer de que filho vocĂª ama mais. A escolha Ă© sempre muito pessoal. Paul Theroux para mim Ă© um grande escritor, pois tem uma prosa direta e nos faz conhecer o mundo. Para mim um escritor tem que ser alguĂ©m que saia da cadeira e vĂ¡ conhecer as coisas, perguntar, viver, pesquisar para escrever. É um fornecedor do mundo lĂ¡ fora para aqueles de nĂ³s que estamos presos na rotina diĂ¡ria.


8) O que vocĂª recomenda aos jovens que pretendem escrever? 

Leia muito, especialmente os clĂ¡ssicos. Preste atenĂ§Ă£o nas construções das frases, no modo como o autor leva a histĂ³ria, constrĂ³i os personagens, dĂ¡ forma Ă s palavras, Ă  histĂ³ria. Machado de Assis Ă© uma escola em si.


9) Muitos leitores questionam os preços e o difĂ­cil acesso aos livros no Brasil. Qual a sua opiniĂ£o a respeito?

Comparado com o resto do mundo, os livros no Brasil estĂ£o atĂ© mais baratos. Mas tendo comparaĂ§Ă£o com mercados maiores e mais maduros, como o americano, onde sĂ£o disponibilizados diversos formatos de uma mesma obra, capa dura, brochura, paperback e digital, os livros brasileiros ficam mais limitados de chegar a seu pĂºblico. Mesmo assim, o maior obstĂ¡culo para um livro chegar ao leitor no Brasil ainda Ă© o aspecto cultural, de nĂ£o se valorizar adequadamente o prazer da leitura.


10) Os ebooks surgiram trazendo um novo conceito de leitura, e ao que tudo indica vieram pra ficar. Como vocĂª vĂª essa tendĂªncia? É adepto? Na sua opiniĂ£o, essa tendĂªncia Ă© bem vista pelo mercado editorial? 

Leio pouco em formato digital. Uso apenas para ler textos curtos ou livros que nĂ£o existem em portuguĂªs e que posso comprar em inglĂªs. A tendĂªncia Ă© bem vista pois trata-se de mais um suporte para fazer o livro chegar ao leitor. No entanto, nĂ£o acredito que a leitura digital no Brasil vĂ¡ pegar com tanta velocidade como pegou nos Estados Unidos. As culturas sĂ£o muito diferentes.


11) Apesar de termos uma riquĂ­ssima literatura nacional, observamos que os blogs e sites literĂ¡rios em geral, priorizam resenhas e matĂ©rias sobre livros e escritores estrangeiros. A que vocĂª atribui esta procura por tais escritores? O que vocĂª acha que falta na literatura nacional? Na sua opiniĂ£o, qual seria a forma de melhorar a visĂ£o que as pessoas tem da nossa literatura?

É um pouco como o efeito da bolacha da Tostines: Ă© mais gostosa por ser crocante ou Ă© crocante por ser mais gostosa. Na minha visĂ£o e experiĂªncia, o maior obstĂ¡culo Ă© o preconceito do leitor brasileiro em razĂ£o nĂ£o apenas da avassaladora presença dos autores estrangeiros nas livrarias como a exiguidade de autores nacionais produzindo bons livros. No entanto, acho que o Brasil nunca valorizou tanto o que se faz aqui. Acho que isso deve aumentar. O mundo inteiro estĂ¡ de olho no que se faz aqui, em todos os campos. Por que razĂ£o nĂ³s nĂ£o estamos? Seria o complexo de “vira-lata” que Nelson Rodrigues delineou da alma brasileira? Pode ser.





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1 comentĂ¡rios

  1. AnĂ´nimo15:27

    Adorei a entrevista ja li os dois livros do Paulo
    Levy e me encantei com o estilo e a forma como ele descreve as personagens e o clima SUPERRRR que ele cria...Parabens Paulo, continue nos brindando com suas historias maravilhosas...Beijo

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