Livros
Todos os dias de ontem
TODOS OS DIAS DE ONTEM, DE NEWTON EMEDIATO FILHO
11:21Universo dos Leitores
No livro Todos os dias de ontem, o escritor Newton Emediato Filho reuniu 20 contos sobre pessoas simples que vivem na região centro-sul de Minas: o alto do Paraopeba.
De forma leve e repleta de sentimento, o escritor narra o cotidiano de um povo que parece viver em um universo diferente do nosso. Enquanto nós nos preocupamos com questƵes tecnológicas, com polĆtica, ciĆŖncia, globalização, dinheiro etc, os personagens do livro, que foram criados a partir da convivĆŖncia do escritor na referida comunidade, levam uma vida humilde e trabalham em contato com a natureza e com os animais. SĆ£o pessoas com uma cultura rica, repleta de tradiƧƵes e costumes, mas bem diferente da que vivenciamos atualmente.
Em cada conto ele apresenta um personagem e todos nos encantam de uma maneira diferente. A forma detalhada com que cada um é descrito, nos permite imaginar o que seria viver em um local onde o desenvolvimento aparentemente não chegou.
Um destaque do livro Ć© a forma sensĆvel e ao mesmo tempo intensa com que o escritor narra as tradiƧƵes que estĆ£o praticamente esquecidas hoje em dia. Ele nos apresenta um linguajar sertanejo e valoriza as raĆzes culturais dos mineiros.
Separei, em alguns contos, passagens que me chamaram a atenção:
Mas quando sai da cidade com aquela pasta cheia de cartas, faz um ar de felicidade e rapidamente, pega o caminho de volta. As guloseimas da padaria, o FelĆcio vai comendo pela estrada. Abre espaƧos e sorrisos. Nem sempre hĆ” cartas para seus amigos perto de onde mora. EntĆ£o ele campeia pela estrada ou atalhos ciliares, lacustres, aproveitando Ć”reas refrescantes das Ć”rvores. Assim, o mundo interior de FelĆcio se enche de fascĆnio nesse amplo espaƧo natural. (NotĆcias que navegam, p. 28/29)
Após se servir, ele cedeu lugar aos outros, sempre atento Ć pequena Graciela e ao cenĆ”rio ao redor. Parecia querer enxergar o que nĆ£o podia ver os outros homens. Antes de sair da cozinha, lanƧou olhos compridos Ć barra do morro, sentindo-se bem perto do cĆ©u. Pudesse ele, permanecia ali por muito tempo, mas tinha Ć¢nsia. Sua mente navegava nestas paisagens tĆ£o próximas, impregnadas de som e cor. Tudo ele guardava para sim, em silĆŖncio... Que rezasse ele? – Podia ser e com sofreguidĆ£o. (Um prato muito especial, p. 39)
Tanta beleza que a natureza respingara por ali fazia com que ele se sentisse em completo ĆŖxtase! Sentia-se naquela paisagem como se fosse dono absoluto do mundo e todas as suas quizĆlias se distanciavam naqueles momentos. (Paroba, p. 52)
Finalmente a fogueira! Todos os meninos em roda, agora conversavam e riam, aqueciam as mãos bem próximas às chamas do fogo. O tempo passava rÔpido e a chuva, nada de estio. O barulho da chuva nas telhas da cobertura aumentava. Com a lanterna apagada Pelão enxergava os rostos dos meninos pelejados, cabreiros, à luz das chamas da fogueira. (Viajantes noturnos, p. 66)
O rapaz trabalhava em silêncio, mas sua mente estava em ebulição com mil idéias. HÔ muito não frequentava a escola, pois cabulava as aulas. O que se ensinava por lÔ, de modo algum lhe fazia qualquer sentido. As muitas astúcias que aprendera, foi mesmo fora do colégio. (MÔquina de descascar arroz, p. 87)
- A saudade é um sentimento nobre e quando se torna forte é porque no passado houve um grande amor - Estas são palavras circunspectas do astuto Chico do AntÓnio. (Os tropeiros de Ôgua limpa, p. 120)
Sem dúvida trata-se de uma leitura leve e prazerosa. Cabe salientar que o livro foi premiado pelo programa + Cultura bacia do rio São Francisco - Funarte e Ministério da Cultura.
Para adquirir o livro e acompanhar as novidades sobre os eventos de lanƧamento do mesmo, basta acessar o facebook.
1 comentƔrios
Li, dei de presente e recomendo... Apanhado geral da vida cabocla, pincelado pelo talento grandioso Newton Emediato Filho, uma cria da terra, a magnĆfica Minas Gerais... ParabĆ©ns pela bela resenha!
ResponderExcluirObrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...