Publicado em 1931, o primeiro livro do escritor Jorge Amado foi escrito quando ele tinha apenas 18 anos de idade e conta a história de Paulo Rigger, um rapaz de aproximadamente 30 anos de idade, que após sete anos vivendo em Paris, retorna ao Brasil.
O personagem, que não se identifica bem com o Brasil, vêm para o país de navio e nele conhece várias pessoas “importantes” que discutem a realidade da época.
Ao chegar, desembarca no Rio de Janeiro em pleno Carnaval e se impressiona com a alegria do povo e com o tamanho da comemoração. Neste momento, o autor deixa transparecer que o país passava por várias transformações políticas e econômicas e, inclusive, de forma discreta menciona uma certa “revolução” entre os que apoiavam Júlio Prestes à presidência, os opositores do governo e os “getulistas”.
Após um período no Rio de Janeiro Paulo Rigger retorna à casa dos pais na Bahia e passa a conviver com um grupo de intelectuais do local:
- Pedro Ticiano, letrado, cético, que entende que ninguém pode ser feliz no amor e, portanto, não aceita o casamento.
- Jerônimo Soares, ingênuo e sem ambições, que se casa com uma prostituta.
- A. Gomes, diretor de uma revista e cujo único objetivo era enriquecer.
- Ricardo Reis, funcionário público, poeta, estudante de direito, que se casa e vai morar no Piauí.
- José Lopes, com personalidade difícil e que sempre batia de frente com Ticiano.
Uma amizade forte existe entre eles e inúmeros assuntos são discutidos nas intermináveis conversas: felicidade, Deus, amor, religião, política, ética, filosofia, literatura, cultura, convenções sociais, patriotismo, povo etc.
Em meio a esses encontros e essas conversas, vários questionamentos são levantados pelo escritor, entre eles a questão da comemoração do Carnaval. Jorge Amado critica o povo brasileiro, por entender que enquanto se entretêm com eventos e festividades como o Carnaval, se mantém alienados com relação às demais questões.
Uma grande parte da história é dedicada aos amores de Paulo Rigger, que abandona a amante francesa, uma mulher da vida e não se casa com o seu grande amor, uma moça chamada Maria de Lourdes, somente porque ela não era virgem e as convenções da época não admitiam.
No final, Paulo, que estava triste e desiludido, decide deixar o Brasil e voltar à Europa. Ele leva consigo todas as suas dores e as suas indignações diante de um país que vive em razão do brilho de um Carnaval.
A linguagem do livro é simples e direta. O autor se utiliza de muitos diálogos, o que faz com que a leitura se torne rápida e agradável.
O escritor buscou, com este livro, demonstrar a inconstância da juventude e a sua busca incansável por respostas e por uma felicidade completa e aguda, que faz com que todos se sintam inúteis e infelizes.
Algumas passagens interessantes:
"- É o país de mais futuro no mundo!
- Perfeitamente! - falou um rapaz que chegara no momento. - O senhor acaba de definir o Brasil. (o senador sorriu baboso). O Brasil é um país verde por excelência. Futuroso, esperançoso... Nunca se passou disso... Vocês, brasileiros, velhos que já foram e rapazes que são a esperança da Pátria, sonham o futuro. "Dentro de cem anos o Brasil será o primeiro país do mundo". Garanto que aquele detestável cronista Pero Vaz de Caminha teve essa mesma frase ao achar Cabral, por um acaso, o país que viera expressamente descobrir." (conversa no navio que vinha da Europa para o Brasil)
"- Eu não sou nem por um nem por outro. O Brasil não deve importar sistemas políticos. Nós até hoje temos importado tudo. Até uma constituição. Demo-nos bem com ela? Nós precisamos é nacionalizar tudo." (fala do personagem Ricardo)
"- Eu não tenho o sentido de Pátria. Só me senti brasileiro duas vezes. Uma, no Carnaval, quando sambei na rua. Outra, quando surrei Julie, depois que ela me traiu". (fala do personagem Paulo Rigger)
"- A felicidade pertence somente aos burros e aos cretinos. Felizmente, nós somos infelizes". (fala do personagem Ticiano)
"Mas o amor talvez não fosse somente carne... Talvez fosse alguma coisa mais... Essa outra coisa, ele não conhecia. Afirmava até que ela não existia". (pensamentos de Paulo Rigger)
Curiosidades:
- Na introdução Jorge Amado confessa que gostaria de ter intitulado o livro "Os homens que eram infelizes sem saber por quê".
- Este livro foi considerado subversivo e queimado em praça pública no ano de 1937.
0 comentários
Obrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...