Cinema Dos livros para o cinema

DOS LIVROS PARA O CINEMA: Os Miseráveis

12:34Kellen Pavão



Contém spoilers:



Esta semana falaremos desta história belíssima que começou nos livros, se tornou um famoso musical, filme e este ano ganhou uma nova adaptação do gênero musical que estreou nos cinemas de todo Brasil. Para falarmos deste filme, traremos neste texto alguns detalhes do desfecho da história, então se você ainda não viu o filme e quer se manter longe dos spoilers, melhor evitar ler as próximas linhas.


Baseado na história criada por Victor Hugo (cuja adaptação foi comentada aqui no blog), “Os Miseráveis” traz para as telas do cinema uma história intensa, de muita emoção e entrega. A obra narra a vida de Jean Valjean, um homem pobre que foi severamente punido ao furtar um pão para alimentar a sobrinha faminta. Através da história de Valjean, Victor Hugo faz um importante retrato da França (onde se passa a história), trazendo elementos históricos, econômicos e sociais que dizem respeito ao período em que se passa a trama.

Temos um amplo parecer da desigualdade social e da miséria que assolava à maioria dos franceses, motivando a Revolução Francesa e a defesa de seus ideais, também retratados no filme e no livro. Valjean é libertado e após inúmeras negativas de trabalho e de ajuda ele conhece um padre que muda sua história, dando-lhe uma oportunidade de reconstruir sua vida. Seu ódio cede lugar ao amor e Jean passa a ajudar todos ao seu redor, o que não impede a perseguição de Javert.


Dito isto,  vamos aos detalhes do filme. Se eu tivesse que definir os 157 minutos de “Os Miseráveis” em uma única palavra seria entrega. Entrega dos atores, da produção e de todos que criaram esta obra prima cinematográfica. Trata-se de uma produção grandiosa, com locações fantásticas, figurino, maquiagem, elenco impecáveis. As características técnicas  fazem jus às indicações e premiações que o filme vem conquistando, assim como o sucesso que tem feito com o público e crítica.


No entanto, peço licença para deixar tudo isso de lado e falar especialmente das atuações e da entrega que mencionei acima. Logo após o filme li alguns comentários de pessoas que acharam o filme muito dramático (o que é verdade). No entanto, ao contrário destas pessoas não vejo isto como um ponto negativo do filme. As interpretações são tão verdadeiras e convincentes, que se torna impossível não se emocionar com os personagens injustiçados e vítimas das desigualdades da França do século XIX retratadas por Victor Hugo, de modo que a intensa carga de drama não soa apelativa e combina com o aspecto teatral do filme, inspirado no famoso musical homônimo.



Como não se emocionar com a Fantine de Anne Hathaway cantando “I Dreamed a Dream”, ou não se sensibilizar com o sofrimento e as injustiças vivenciadas pelo Jean Valjean de Hugh Jackman? Como evitar as risadas provocadas pelo núcleo cômico composto por Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, ou não se encantar com a pequena Cosette e o destemido Gavroche?


O fato dos atores não serem cantores profissionais tem rendido muitas críticas e incomodado muitos profissionais do cenário musical. No entanto, como expectadora digo que até as falhas vocais se tornam secundárias diante das interpretações deslumbrantes e da entrega dos atores aos personagens. Não sei se outras pessoas tiveram a mesma sensação, mas em vários momentos  tive vontade de cantar junto com os personagens, tamanho envolvimento com a história. 



O filme é cheio de vida, emoção e verdade como bem transmitiu (na minha opinião) o Javert de Russell Crowe, que vem sendo duramente criticado por sua atuação musical. Os atores mirins tiveram grande destaque nas poucas cenas em que atuaram e não deixaram a desejar em nenhum momento. A revolução é um momento bem interessante e revela a luta dos estudantes franceses por liberdade, igualdade e melhores condições de vida, contada juntamente com o drama de Jean perseguido incessantemente por Javert.

O final é apoteótico e reúne todos os atores do filme em um dos encerramentos mais emocionantes que já tive oportunidade de ver no cinema. No que diz respeito aos comentários negativos que apontam um “excesso” de músicas, só tenho a dizer que o filme integra o gênero musical, e o fato de conseguir contar uma trama tão rica exclusivamente através de músicas só o torna ainda mais incrível.



Assim, por meio do filme "Os Miseráveis" fomos apresentados à história de Jean Valjean, desgraçado por um homem que só acreditava nas leis e salvo por outro homem que acreditou na sua mudança e no seu potencial, o padre que mudou a sua vida e ajudou a erradicar todo o ódio que havia em seu coração. Uma linda história de garra, superação e esperança. Certamente figurará entre os melhores musicais já exibidos no cinema!




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