No ano de 2013, quando esse livro foi publicado, eu fiquei tão curiosa que entrei em uma loja online e comprei com muita ansiedade. Ele chegou, mas por algum motivo eu não li. E não li, não li, não li. Algumas semanas atrás, quando parei para olhar para a estante e pensar em um novo título para começar, decidi que estava na hora de ler Sal... Gente, que livro! Peguei para ler um capítulo, mas passei a madrugada em claro, porque eu não consegui parar, não consegui deixar aqueles personagens me esperando até o outro dia.
"O tempo pode ter o mesmo efeito de uma guerra. Avassalador. Miúdo e invisível, ele nos pega de surpresa. De repente, bum. O tempo passou como um rio tormentoso carregando tudo consigo."
Sal conta a história dos Godoy, uma família de marinheiros que decidiu viver em La Duvia, uma ilha pequena e afastada, situada na América Latina. Naquele local, onde existe um lindo farol, muitos acontecimentos marcantes aconteceram até o casamento entre Ivan e Cecília, uma das narradoras da história.
Ivan, filho de um dos Godoy e um homem de posses, se apaixonou por Cecília quando era um jovem rapaz, contudo, como a moça era uma das funcionárias da casa, o relacionamento entre eles ficou escondido por muito tempo, já que a sua mãe, uma mulher muito fria e rigorosa, jamais concordaria com aquele romance.
Acontece que quando eles menos esperavam, a verdade veio à tona e os rumos da família mudaram completamente em razão da perda de um ente muito querido. Porém, diante do novo contexto em que se encontravam, Ivan foi firme e decidiu que iria se casar com a garota e superar todos os desafios necessários.
O casamento aconteceu e juntos eles tiveram seis filhos: Lucas, Julieta, Flora, Eva, Orfeu e Tiberius. Os jovens, com personalidades distintas e muito bem descritas no livros, foram responsáveis por infinitas mudança na vida e na rotina do casal, sendo eles os verdadeiros fios condutores da narrativa.
Porém, diferente do que vocês imaginam, essas informações não estão descritas no livro em ordem cronológica e não são apresentadas apenas pela narradora Cecília. A verdade é que ela aparece apenas em momentos chave, relembrando o passado e recheando a história com linhas e cores repletas de emoção e de nostalgia.
"(...) E a minha alma carrega algumas lembranças ruins, difíceis de apagar."
Como eu disse acima, os filhos de Cecília são os condutores da história e todos eles tem voz ativa e contribuem para que novelos de linha se desamarrem. Por ser assim, o livro é dividido em três partes: na primeira parte, Flora, a jovem que tem paixão pelos livros e pela escrita, conta sobre a família e descreve com riqueza de detalhes o cotidiano da casa e as caraterística de cada um. Além disso, ela conta sobre o livro que escreveu e todos os anseios que sentiu durante o processo de escrita.
"Escrever é uma espécie de poder sobrenatural. Como ver os mortos ou fazer levitar os móveis da sala. Tenho pensado muito nisso. Tenho pensado nisso depois que as coisas começaram a acontecer fora do meu livro do mesmo modo que ocorriam lá dentro."
Na segunda parte, Tiberius, um dos personagens mais intrigantes e misteriosos, descreve momentos específicos da sua infância, descreve as razões pelas quais o livro de Flora mudou o destino de todos, e destaca, com mais intensidade, os acontecimentos que marcaram a sua jornada depois que ele saiu da ilha em busca de um dos irmãos.
"(,,,) A verdade nunca me chega inteira, é mais parecido com as peças de um quebra-cabeça, peças soltas que eu vou juntando.Cada dia um lugar, essa é a minha vida."
Por fim, na terceira e última parte, Orfeu, por meio de uma carta, narra um pouco da sua vida e das razões pelas quais ele optou por tomar rumos tão diferentes de todos.
Em meio a tudo isso, em alguns capítulos Eva se manifesta com a sua personalidade intensa e com seu jeito desprendido. Julieta e Lucas, apesar de não serem narradores em nenhum momento, são tão bem caracterizados pelos demais, que conseguimos desenvolver afeto por eles e compreender, perfeitamente, como eles são.
É nisso que reside o mérito de Leticia Wierzchowski! Ela criou uma história sem ordem cronológica, com vários narradores. Porém, diferente do que pode parecer, é uma história de fácil compreensão, que faz com que a gente se apaixone por todos os personagens e experimente diversas sensações e emoções.
Esse é um livro humano, que fala sobre família, amor, morte, sonhos, perdão, escolhas, solidão e muito mais. Um livro que encanta da primeira a última página, que surpreende por conter tantos detalhes, por ser tão singelo e tão intenso. A linguagem é super poética, os diálogos são intensos e os personagens... Ah, são humanos demais!
Foi um dos primeiros livros que li esse ano e ficarei verdadeiramente surpresa se ele não estiver no meu TOP 10 no final do ano. Porque olha, me marcou demais! Quando terminei a leitura parei e pensei: "Deveria ter lido antes". Depois, parei novamente e pensei: "Eu li na hora certa". A história mexeu tanto comigo, que tenho certeza que eu li no melhor momento.
Ah, Flora, quando termina de escrever o seu livro, diz o seguinte: "Terminar um livro é morrer um pouquinho, eu posso garantir." Essa frase, apesar de dita sobre o seu ponto de vista de escritora, valeu para mim como leitora, afinal, me senti assim quando terminei de ler Sal, e me senti assim quando terminei todos os livros inesquecíveis que já li. Espero vivenciar essa sensação infinitas vezes!
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