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Retalhos, de Craig Thompson

00:00Universo dos Leitores

Quando eu vi Retalhos na livraria me apaixonei imediatamente. Edição impecável, ilustrações maravilhosas, com traços firmes e detalhistas, que demonstram com intensidade as emoções e os sentimentos dos personagens. Só de folear eu fiquei encantada... No mês seguinte, pedi a HQ no meu pedido da parceria da Companhia das Letras e agora que li posso dizer o seguinte: o trabalho é ímpar não só pelas ilustrações como também pelo roteiro sensível, sincero e emocionante, que consegue falar de amor e de juventude ao mesmo tempo em que mostra o quanto as imposições sociais (e religiosas) podem impactar a nossa vida e as nossas escolhas.

Por meio de diálogos leves, poéticos e repletos de reflexões, a HQ autobiográfica conta a trajetória de Craig Thompson, um jovem que nasceu em uma família simples e muito religiosa, que sempre lhe ensinou a importância de temer a Deus sob todas as coisas. 

Acontece que as lições de fé e amor ao Deus não eram muito aplicadas no dia a dia de Craig. O seu pai era extremamente autoritário e lhe obrigava a dividir a mesma cama com o irmão mais novo, o que foi um grande trauma durante a sua infância e acabou interferindo no seu relacionamento com a família quando ele se tornou um adolescente. 

“Mas o pior de tudo, talvez, era que eu sempre o ameaçava com minhas descobertas desestimulantes sobre o ‘mundo real’, como se ter três anos a mais me tornasse um especialista.”
A adolescência, que poderia ter sido melhor, também foi marcada por muitas imposições e inseguranças, já que Craig frequentava a Igreja diariamente e por lá recebia diretrizes sobre a melhor forma de conduzir a vida tendo, inclusive, sido orientado a deixar de lado os desenhos que ele tanto amava, para se dedicar somente a Deus. 

Excluído da turma do colégio e repleto de complexos, o rapaz tentava compreender as lições passadas pelos pais e pela Igreja, mas a tarefa, que sempre foi complicada, já que ele possuía diversos questionamentos, se tornou mais difícil depois que ele conheceu Raina, a jovem por quem ele se apaixonou e viveu a primeira história de amor.

“Pela primeira vez, fiquei mais do que feliz de estar onde estava. Mas não conseguia dormir. Então fiquei escutando a respiração de Raina e, mais abaixo, as batidas de seu coração, e por sobre tudo, o murmúrio delicado dos espíritos pelo quarto.”
Acontece que na vida real, diferente do que acontece nos livros de romance, nem tudo são flores e nem todos os finais são felizes. Raina tinha vários problemas de família e isso acabou por interferir na relação entre ela e Craig. Eles precisaram tomar decisões difíceis e encontrar meios de seguir a vida.

Essa é uma história linda, que fala sobre o amadurecimento, as escolhas, as dores, os medos e a fé. Uma história que mostra que para ser feliz é preciso encontrar quem somos independente daquilo que os outros dizem que devemos ser. 

Craig se entregou à narrativa e revelou com muita sinceridade e intensidade os seus sentimentos e todas as dificuldades que passou ao longo da vida, com isso, a leitura ficou envolvente e prendeu a atenção da primeira à última página. 

“Minha fé desmoronou de uma hora pra outra. Escondi minha Bíblia... e me mudei para a cidade.”
Além disso, as ilustrações, como eu já comentei, são maravilhosas. Algumas páginas são tão bonitas que parecem obras de arte. É impossível olhar rapidamente. É preciso apreciar cada detalhe e cada traço com cuidado e atenção, para poder captar a beleza de cada desenho e sentir toda a emoção que eles transmitem.

Simplesmente incrível! Mais que indicada... 




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