Padre Sérgio, de Tolstói, conta a história de Stepan Kasatsky, um jovem orgulhoso e ambicioso, que passou parte da vida tentando se incluir entre os membros da alta sociedade e ser visto como tal. Quando ele estava perto de alcançar o seu sonho, o que aconteceria no momento em que ele se casasse com uma condessa, ele descobriu um grande segredo da moça e decidiu terminar o noivado.
Desolado, com o orgulho ferido e sem saber qual a melhor maneira de seguir a vida, Stepan acabou tomando uma decisão importante e inesperada: se tornar um monge. A sua vida ganhou novos rumos, mas em razão de outro imprevisto relacionado aos seus desejos carnais, ele acabou saindo do mosteiro e, na nova fase da sua vida, se tornou o Padre Sérgio.
Alternando entre momentos de humildade e orgulho, perdão e culpa, santidade e desejos proibidos, Padre Sérgio é um personagem intenso e imperfeito, que nos coloca diante de várias reflexões sobre as hipocrisias que envolvem os homens, a Igreja e a fé.
"Não sei porque é preciso escutar as mesmas orações várias vezes ao dia, mas sei que isso é necessário. E, sabendo que são necessárias, nelas me regozijarei."
O livro é curto e possui uma narrativa simples e envolvente, que não retira em nada a grandeza da crítica que ele pretende construir. Com poucas páginas e basicamente um único personagem em destaque, a obra mostra muito dos questionamentos de Tolstói acerca do cristianismo, da resistência ao mal, da figura perigosa e maléfica da mulher etc.
"Meu Deus! Será verdade o que li na Vida dos Santos? Que o demônio toma forma feminina... Sim, esta voz é de mulher. Uma voz meiga, tímida, amável! Ai, ai!"
O interessante é que mergulhamos no psicológico do personagem, compartilhamos todas as suas angústias, mas mesmo assim conseguimos perceber as suas falhas de caráter e ter raiva das suas atitudes e de alguns dos seus pensamentos. É um misto de emoções!
Vale destacar que ao mesmo tempo em que nos apresenta a intimidade e os conflitos de um homem repleto de complexos e inseguranças, a obra também mostra a estrutura da alta sociedade russa, sempre envolvida em boatos, fofocas, festas e luxos, enquanto os pobres eram considerados culpados de todos os crimes e todos os pecados.
Por fim, preciso comentar que essa edição da Cosac Naify integra a coleção Prosa do Mundo e conta com um Apêndice que reúne comentários sobre a obra, dicas interessantes de leituras e, também, uma carta escrita por Tolstói no ano de 1901, em resposta à Resolução do Sínodo de 20-22 e às demais cartas recebidas na ocasião. Naquela oportunidade, entre várias outras coisas, ele disse:
"O fato de eu ter renegado a Igreja que se intitula ortodoxa é totalmente exato. Mas reneguei-a não porque me insurgi contra o Senhor, ao contrário, simplesmente porque desejava servi-lo com todas as forças da alma.
(...)
E convenci-me de que o ensinamento da Igreja é, em sua teoria, uma mentira pérfida e perniciosa; em sua prática, reúne as mais grosseiras superstições e sacrilégios, ocultando por completo todo o significado do ensinamento cristão."
Vale a pena conferir!
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