"A administração das listas é uma atividade complexa. Os itens numa lista não têm a mesma importância. Não sou nada racional. Minhas listas são intermináveis. [...] 'Achar o número da médica'. Eu não considerei corretamente essa tarefa. Eu devia tê-la considerado de imediato. Sem dúvida. Era urgente. Eu a considerei uma tarefa flutuante. Eu a reescrevia de uma lista à outra. Às vezes nem reescrevia. Eu a achava numa lista antiga. Isso me lembrava que eu tinha prometido. E eu a copiava novamente."
A Lista, da canadense Jennyfer Tremblay, surgiu como um texto para o teatro e, em razão do seu sucesso, foi transformado em um livro que chegou ao Brasil em uma linda e delicada edição da Autêntica.
A história, apesar de simples e com poucas páginas, possui um tom leve e poético, se destacando pelas profundas e incríveis reflexões que apresenta: O que estamos fazendo com o nosso tempo? Qual o peso das nossas escolhas? Podemos suportar as consequências dos nossos atos? Somos realmente tão responsáveis como pensamos ser?
Pois é... Eu pensava que sabia todas essas respostas, mas ao ler esse livro descobri que nem sempre temos as respostas para todas essas perguntas, pois constantemente temos que repensar nossas prioridades e objetivos.
A protagonista é uma mãe de família extremamente atarefada, obcecada por listas e organização, que percebe o quanto foi negligente com a família quando um acontecimento trágico tira a vida de uma de sua pequena filha.
Marcada pela culpa e carregando uma dor incontrolável, ela passa a observar o comportamento de Carolina, uma vizinha extremamente dedicada aos filhos e ao marido, que aparenta ser uma mulher extremamente feliz e completa. Em conflito com os seus próprios valores e as suas escolhas mais íntimas, ela vive uma profunda crise interior e narra tudo isso de forma intensa e marcante, que envolve o leitor e prende a atenção da primeira à última página.
O interessante é que após sete atos - Expiração, Opressão, Dispneia, Síncope, Asfixia, Sufocação e Inspiração - a narrativa chega ao fim e não explica quase nada. A escritora não criou uma resposta ou uma justificativa para as escolhas da sua personagem e não tentou protegê-la. O que ela fez foi mostrar que cada passo que damos gera uma consequência e que é importante pensar nos caminhos que vamos seguir, já que não é possível voltar atrás.
Essa é uma obra comovente e dramática, que sem dúvida nos coloca diante de uma realidade muito experimentada no mundo moderno: a falta de tempo e a supervalorização do trabalho.
Por mais que o texto seja fluido, é preciso ler com atenção para extrair todas as mensagens que ele visa transmitir. Leitura indicada! :)
Por mais que o texto seja fluido, é preciso ler com atenção para extrair todas as mensagens que ele visa transmitir. Leitura indicada! :)
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