Chimamanda Ngozi Adichie é a escritora nigeriana que no ano de 2010 entrou para a lista dos 20 autores de ficção mais influentes com menos de 40 anos. Americanah, o seu título mais recente, foi publicado no ano de 2013 e descreve, com muita intensidade e, ao mesmo tempo, muita delicadeza, a vida de uma jovem que deixa o seu país de origem e vai tentar a vida nos Estados Unidos.
Acontece que diferente do que muita gente pensa, ser estrangeiro não é fácil. Ser estrangeiro e negro, é pior ainda. Por meio de uma narrativa leve e com um ritmo agradável, conhecemos de perto da vida de Ifemelu, a jovem que tinha muitos receios de sair do seu país, mas que encarou a mudança de cabeça erguida e precisou reaprender a viver.
"Ela andou até o trem, sentindo-se pesada e lenta, com a mente entupida de lama. Sentou-se ao lado da janela e começou a chorar. O mundo era um lugar tão grande, tão grande, e ela era tão pequena, tão insignificante, sendo jogada de um lado para o outro vazia. (...)"
Entre um trabalho e outro, uma desilusão amorosa e outra, a jovem desenvolveu um grande senso crítico e uma percepção diferenciada do mundo, razão pela qual resolveu montar um blog para descrever as suas experiências. No blog, que rapidamente fez sucesso, ela falava sobre as dificuldades de sair do país de origem, sobre os problemas políticos e raciais dos Estados Unidos e muito mais.
Acontece que depois de 13 anos fora do seu país, ela toma uma decisão muito importante: mesmo sem emprego em vista, ela quer voltar a viver na Nigéria... Por quê? Bom, isso você terá que ler para saber...
Apesar da narrativa de Ifemelu ser suficiente para prender a atenção e fazer a leitura valer a pena, o livro conta com capítulos alternados que mostram o ponto de vista de Obinze, o jovem que Ifemelu namorava quando deixou a Niigéria. Por meio do seu olhar e das suas experiências, muito mais sobre preconceito e discriminação é apresentado ao leitor, que com certeza fará inúmeras reflexões ao longo de cada página.
O livro é uma mistura de romance e drama, mas o que ele realmente contém e uma importante e bela lição de vida e de humanidade. Deixar o país é muito mais que viver longe de pessoas amadas. É mudar os hábitos, aprender novas culturas e, em partes, deixar de lado tudo o que você sempre soube para se integrar em um mundo novo. É renascer, o que pode ser bom, mas também pode deixar grandes marcas e dores profundas.
Ao longo da história aprendemos muito sobre a cultura nigeriana e a cultura americana. O retorno de Ifemelu para a Nigéria mostra um choque cultural incrível e impactante!
"Quando você é negro nos Estados Unidos e se apaixona por uma pessoa branca, a raça não importa quando vocês estão juntos sem mais ninguém por perto, porque então é só você e o seu amor. Mas no minuto em que põe o pé na rua, a raça importa. Mas nós não falamos sobre isso. (...)"
A escritora utiliza de uma linguagem leve e de personagens muito bem caracterizados e cativantes, para nos colocar diante de questões que nos incomodam e que insistimos em esquecer: o racismo existe, está aí e impera na sociedade, excluindo pessoas, discrimando-as. Quer a gente queira, quer não, o tema precisa ser abordado, precisa ser discutido e novas abordagens devem ser levantadas. É preciso perder o medo. É preciso olhar de cabeça erguida para o mundo e abraçar essa luta.
Além da questão referente ao racismo, o livro também aborda o machismo, demonstrando o quanto a sociedade discrimina e oprime as mulheres. Diferente do que algumas pessoas podem pensar, isso não ocorre apenas na Nigéria, que possui costumes diferentes dos nossos. A protagonista enfrenta isso a todo o tempo nos Estados Unidos, sempre considerado o país da evolução.
Sem dúvida a leitura de Americanah abre o nossos olhos para assuntos delicados e relevantes, ao mesmo tempo em que nos cativa por apresentar personagens tão intensos, sensíveis, verdadeiros e humanos.
A técnica de capítulos alternados entre o dia-a-dia de Ifemelu e de Obinze também foi uma escolha acertada, já que contribuiu para prender a atenção e despertar a curiosidade.
Com um final surpreendente e muita lição de vida e de cidadania, esse livro é realmente imperdível... Indico sem medo e garanto que todas as páginas (olha, são muitas) valem a pena!
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