Narrado em primeira pessoa, esse foi um dos livros mais poéticos e melancólicos que provavelmente li na minha vida. É o tipo de leitura capaz de abrir uma ferida na alma, pois você sente a dor da protagonista, que descreve os seus medos e anseios de forma profunda e dolorosa.
O que muitos podem estranhar é o fato de que o livro não foi escrito por um japonês, mas sim por um americano. Acontece que no próprio livro, Arthur Golden, o escritor, esclarece que conheceu uma gueixa que lhe contou suas memórias e pediu para que todas elas fossem publicadas após sua morte.
Chiyo Sakamoto nasceu em Yoroido, um vilarejo a beira-mar. Lá ela morava em uma casinha bêbada (apelido que deu para a casa, que parecia estar despencando para o lado), juntamente com como pai muito idoso, a mãe, e a irmã Satsu. A sua vida era simples, com isso, quando a sua mãe adoeceu, o seu o pai, que já havia perdido a primeira esposa ficou desnorteado ao perceber que teria que criar as duas meninas sozinho, e tomou uma decisão que mudou para sempre o destino delas: ele as vendeu.
“O destino não é sempre como uma festa no fim da tarde. Às vezes é apenas lutar na vida, dia após dia”.
Após a difícil decisão do pai, elas foram viver em um local chamado Kioto e foram separadas uma da outra. Diante disso, cada uma seguiu seu destino e Chiyo se tornou criada em uma Okya (casa onde vivem as gueixas). Lá ela foi maltratada, explorada e humilhada por Hatsumomo, uma gueixa de beleza exuberante, mas também uma mulher ambiciosa, perversa e invejosa. A sua irmã Satsu, por sua vez, teve um destino ainda pior: tornou-se prostituta.
Em meio a tanto sofrimento e desespero, Chiyo se prendeu à esperança de encontrar sua irmã mais velha e fugir, mas seus planos foram descobertos e ela fracassou. Com apenas 9 anos de idade, a sua vida era cheia de sofrimentos, trabalhos e problemas de um adulto. Hatsumomo, ciente da situação da garota, se aproveitava da sua inocência para fazer com que ela sempre se encrencasse e acumulasse dívidas na Okya, o que tornava impossível a sua liberdade ou o seu futuro como gueixa.
Porém, tudo mudou no dia que ela conheceu o Presidente. Ele se encantou por seus olhos e ela se encantou por ele. Contudo, naquele momento nenhum dos dois conseguia o que o futuro lhes reservava.
“Era como uma criança andando na ponta dos pés ao longo de um precipício sobre o mar”.
Ao longo da história acompanhamos as transformações na vida de Chiyo, que deixou de ser uma garota inocente de um vilarejo de pescadores, para se transformar em Sayuri (seu nome de gueixa), uma mulher inteligente, elegante e linda. O livro mostra com riqueza de detalhes o seu esforço na transformação em gueixa e as suas lutas diárias para alcançar o sucesso.
“Desde o dia em que meu pai me vendeu como escrava fez cada uma de suas escolhas motivada pelo amor ao único homem que lhe estendeu a mão”.
O leitor é apresentado a um mundo desconhecido e cheio de mistérios, o que torna a leitura envolvente, com grande carga cultural e com relatos que você fica em dúvida se representam a realidade ou são apenas ficção. A narrativa demonstra a verdadeira face de uma gueixa, que ao contrário do que muitos pensam não são prostitutas de luxo, mas sim grandes artistas que recebem um treinamento e são criadas desde a infância para entreter os homens com a beleza e os talentos como dança, arte, literatura, música etc.
A função delas é, portanto, entreter os aristocratas nas casas de chá. Com isso, elas possuem as virgindades leiloadas para os tais poderosos, que podem vir a se tornar os seus Danna (uma espécie de patrocinador da gueixa).
“Não somos gueixas por querer, mas sim por falta de oportunidades, uma gueixa pode sim manter relações sexuais com seu Danna, caso contrário será uma gueixa sem virtudes e terá sua reputação na lama”.
Essa é uma história comovente, que fala sobre as lutas diárias das mulheres e que encanta e sensibiliza o leitor com o universo que é apresentado. A escrita do autor é perfeita, com isso a leitura flui bem e a gente se sente dentro da própria história.
Vale destacar que a diagramação está ótima. Não encontrei erros na leitura e nova capa chama muita atenção. É um livro que eu recomendo sem qualquer receio.
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