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Dois Irmãos: a história de Milton Hatoum e os quadrinhos de Fábio Moon e Gabriel Bá
00:30Universo dos Leitores
Passado o encanto inicial, comecei a ler a história e quanto mais eu mergulhava na vida da família dos gêmeos Yakub e Omar, mais eu sentia necessidade de conhecer o texto original de Milton Hatoum, um escritor nacional até então desconhecido para mim. Foi por isso que parei a leitura dos quadrinhos e comprei o livro original. Decisão melhor eu não poderia ter tomado. Mergulhar na história do livro me permitiu conhecer um escritor inteligente, com uma narrativa envolvente e humana, além de ter contribuído para a minha análise da HQ que agora eu posso dizer, sem menor dúvida, que ficou completamente fascinante e preservou muito bem a obra original.
Como vocês podem ver, essa resenha será repleta de elogios. Mas a verdade é que a história desse livro contém tudo que me conquista: personagens humanos, complexos, bem caracterizados e repletos de erros e acertos; mulheres fortes; problemas familiares; choques de realidade. A HQ, por sua vez, trouxe essa mesma história de forma mais dinâmica, com ilustrações bem delineadas e traços marcantes. Como não amar?
Mas dito tudo isso, vamos à história...
Ambientada em Manaus do século XX, o livro conta, de forma não linear, a vida da família do casal Zana e Halim, imigrantes libaneses que dedicavam ao comércio e aos três filhos: Rânia, a caçula, e os gêmeos Omar e Yakub. Acontece que enquanto a garota era tranquila e não dava nenhum trabalho, os gêmeos, por terem personalidades completamente diferentes, vivam em conflito.
Os problemas entre eles se agravaram quando Omar, sempre agitado e raivoso, atacou Yakub, um garoto mais quieto e pacato. Depois desse fato, os pais optaram por separá-los, o que ocasionou a mudança de Yakub para o Líbano.
“Aconteceu um ano antes da Segunda Guerra, quando os gêmeos completaram treze anos de idade. Halim queria mandar os dois para o sul do Líbano. Zana relutou, e conseguiu persuadir o marido a mandar apenas Yaqub. Durante anos Omar foi tratado como filho único, o único menino”.
Acontece que a decisão de afastar Yakub do convívio com a família não foi a mais acertada. Quando ele retornou ao lar, 5 anos depois, continuava com todos os complexos e com o sentimento de ter sido preterido pela mãe. Contudo, dedicado e esforçado, ele se fechou nos estudos e se tornou um profissional de sucesso, um homem independente e bem resolvido. Enquanto isso, Omar se entregou à bebida e à vadiagem, causando apenas desgosto e brigas na família.
Quanto mais o tempo passava, mais distantes os irmãos se tornavam e mais sofrimento era causado à Zana e Halim. A preocupação constante com os dois interferiu na vida de todos os membros da família, trazendo muitos transtornos e muito sofrimento.
Toda a história é narrada pelos olhos de Nael, um garoto que, por ser filho de Domingas, a empregada da casa, acompanhou tudo de perto. Mas assim como todos os personagens, a trajetória de Nael também esconde segredos e também é marcada pelo sofrimento constante.
"Só o tempo transforma nossos sentimentos em palavras mais verdadeiras, disse Halim durante uma conversa, quando usou muito o lenço para enxugar o suor do calor e da raiva ao ver a esposa enredada ao filho caçula."
Essa é uma história sobre os seres humanos em sua essência, sobre a importância da constituição de uma família e, principalmente, sobre os resultados de cada um dos nossos ato. Cada página reserva uma surpresa, uma descoberta, uma emoção. Nada é óbvio e nenhum personagem é perfeito, mas tudo, tudo surpreende!
Amor, perdão, vingança, força e fraqueza são colocados em xeque durante toda a narrativa, que é ao mesmo tempo comovente e impactante!
Uma descoberta maravilhosa de 2015!
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