Crítica Editora Companhia das Letras

O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago

00:30Universo dos Leitores


Sobre a obra:

"...Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que 
não nos vemos se não saímos de nós...",

Após vencer toda a burocracia, o homem conseguiu falar com o rei e fazer o seu pedido: ele queria um barco para partir em busca da ilha desconhecida. O rei, intrigado com o pedido, informou que não existiam ilhas desconhecidas e que o homem perderia tempo e correria riscos, uma vez que não era marinheiro. No entanto, o homem do barco insistiu e teve o seu pedido atendido pelo rei. 

Quando se retirou do castelo para ir às docas escolher o seu barco, foi acompanhado pela mulher responsável pela limpeza do palácio, que viu no sonho do homem uma oportunidade para mudar o seu destino e resolveu acompanhá-lo. Acontece que mesmo tendo o barco, eles não tinha tripulação e não conseguiram encontrar ninguém disposto a encarar a aventura.

A partir desse ponto, o pequeno conto revela surpresas sobre o psicológico humano, a força de vontade, a importância de perseguir um sonho e a relevância do autoconhecimento.  
Minhas Impressões:

Com poucas palavras Saramago conseguiu construir um conto inspirador e repleto de reflexões. Os personagens inominados e aparentemente simples se revelaram complexos e intensos, com pensamentos relevantes e que contrariavam as suas posições sociais: ele, o homem do barco; ela, a mulher da limpeza.

A história abordou temas relevantes como a hierarquia, a burocracia, o egoísmo, a falta de interesse em buscar o desconhecido e a capacidade humana de acreditar em respostas rápidas e prontas, sem questionar a fundo as questões propostas.

Em meio a todas essas questões, o foco da obra foi a busca do autoconhecimento. A ilha foi uma metáfora utilizada por Saramago, uma vez que a intenção do homem do barco era aprender mais sobre ele, o que foi perfeitamente demonstrado em algumas passagens, entre elas a citada abaixo:

“(..).mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero 
saber quem sou eu quando nela estiver”.
A intenção do personagem era estar longe dos locais conhecidos e das pessoas de convivência diária, para descobrir a sua verdadeira personalidade e conhecer a sua essência. A ideia de enfrentar o mar remeteu à ideia de enfrentar a vida, com seus obstáculos e suas intempéries, sempre na intenção de construir uma nova identidade e aprimorar as experiências. 

Merece destaque na obra o fato dos personagens não terem recebido nomes próprios. Acredito que a intenção do autor foi colocá-los em igualdade com todos os seres humanos, afinal, todos nutrimos sonhos que por vezes consideramos impossíveis. 

É interessante destacar que mesmo pequena a história manteve o estilo típico de Saramago: poucos parágrafos e pontuação reduzida. O interessante desse estilo do escritor é que ele causa uma sensação diferente na leitura. O misto entre os diálogos e os pensamentos nos aproxima da história, que se assemelha à vida real - estamos sempre confusos quanto ao que dizemos e o que pensamos. 

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2 comentários

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