Impactante, cruel, realista e ao mesmo tempo brilhante!
A Lista Negra, primeiro livro de Jennifer Brown, foi publicado no Brasil pela Editora Gutenberg e aborda um tema de extrema relevância, o bullying. O termo, muito utilizado na atualidade e muito discutido em escolas e grupos de apoio psicológico, se refere aos atos de violência fÃsica ou verbal praticados de forma repetida e intencional em relação a uma pessoa ou a um grupo de pessoas que, em regra, não se comportam ou não se adaptam aos padrões normais de comportamento ou aparência exigidos pela sociedade.
No livro, o casal Valerie e Nick eram as vÃtimas do bullying na escola e viviam angustiados e deprimidos com a situação. Em uma conversa casual entre eles, resolveram criar uma lista denominada “Lista Negra”, para colocar o nome das pessoas que odiavam e queriam ver pelas costas. Acontece que para Valerie a lista era apenas uma válvula de escape para a raiva e para a dor, no entanto, para Nick significava muito mais. Ele viu a brincadeira com muita seriedade e certo dia, em um ato desesperado, resolveu ir para o colégio armado e atirar em todos os alunos que estavam listados.
O seu ato, impulsivo e agressivo, culminou na morte de várias pessoas e deixou outras tantas feridas. Após disseminar tiros e palavras agressivas, ele atirou em si mesmo e em Valerie, porém, ela conseguiu sobreviver. Quando saiu do hospital, os seus problemas que antes eram de aceitação e de relacionamento familiar, se tornaram ainda mais intensos e geraram inúmeras conseqüências para a sua vida.
Isso porque, ao mesmo tempo em que sentia vÃtima da situação, se sentia culpada por ter ajudado a escrever aqueles nomes. Enquanto todos acusavam Nick e o condenavam como um monstro, ela lutava entre a realidade e as lembranças que possuÃa: um namorado atencioso, carinhoso, dedicado e divertido, que cuidava dela e a protegia. Além disso, a maioria das pessoas passaram a julgá-la e a vê-la como uma constante ameaça social – inclusive os seus pais.
Às vezes, em um mundo onde os pais se odeiam e a escola é um campo de batalha, era ruim ser eu. O Nick tinha sido minha fuga. A única pessoa que me compreendia. Era bom fazer parte de um "nós", com os mesmos pensamentos, os mesmos sentimentos, os mesmos problemas. Mas, agora, a outra metade desse "nós" tinha ido embora e, deitada no meu quarto escuro, percebi que não sabia como me tornar eu mesma de novo.
Luto, dor, desprezo, exclusão social, perdão, angústia e o peso dos atos praticados são assuntos abordados no livro com muita intensidade. A narrativa em primeira pessoa conferiu uma aproximação incrÃvel com Valerie, o que tornou a história intensa e bem reflexiva.
É preciso destacar que a escritora não buscou um final feliz e não se preocupou em confortar o leitor. Pelo contrário! Com um texto bem escrito e bem amarrado, ela nos colocou diante de uma realidade cruel, impactante e nos permitiu refletir sobre a nossa conduta diante da vida e principalmente diante das pessoas.
A questão colocada no livro já foi vivenciada por todos – tanto no Brasil como em outros lugares do mundo já ocorreram crimes como o tratado pela escritora e a tendência social sempre foi de buscar um culpado, acusar e julgar. No entanto, esquecemos que o acusado tem famÃlia e deixou pessoas que o amavam. Da mesma forma, acusamos os que conviviam com ele e sequer nos preocupamos com a forma que eles se sentem, ou com os problemas que terão de enfrentar para se reerguer.
A nossa atitude é correta ou acaba por disseminar mais violência e mais dor? O preconceito tem razão? Quando excluÃmos alguém por preconceitos bobos temos como medir a conseqüência disso? Será que o simples fato de julgar não é uma violência grave?
Esses questionamentos não saÃram da cabeça quando fechei o livro e certamente a resposta para eles não é fácil de ser encontrada.
Creio que os alunos estão começando a compreender que somos todos amigos aqui. Que as crÃticas, opiniões destrutivas e as antipatias, que são tão comuns em adolescentes, não valem a pena no final das contas. Infelizmente, tiveram de descobrir do modo mais difÃcil. Contudo, aprenderam e mudaram. É por isso que acredito que essa geração vai fazer deste mundo um lugar melhor para viver.
- O tempo nunca acaba – sussurrou, sem olhar para mim, mas mirando minha tela. – Como sempre há tempo para a dor, também sempre há tempo para a cura.
É claro que há.
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