Anthony Burgess
Escritores
Especial Laranja Mecânica: Sobre Anthony Burgess
06:00Universo dos Leitores
Nessa semana teremos um especial sobre Laranja Mecânica, uma das maiores distopias de todos os tempos. No entanto, antes de mergulhar nas peculiares da obra, nada mais justo que falar sobre o seu criador, Anthony Burgess.
Burgess nasceu em 25 de fevereiro de 1917, em Manchester, Inglaterra. Filhos de pais católicos, sua mãe faleceu quando ele tinha apenas 2 anos de idade e ele foi criado pela tia, que posteriormente se tornou sua madrasta. Tal fato refletiu de forma intensa em sua vida e em sua produção literária.
Estudou inglês e literatura na Xaverian College and Manchester University e após a sua formatura, no ano de 1940, serviu por seis anos no Corpo de Educação do exército britânico durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, se tornou oficial na Ásia e professor, trabalhando, inclusive, no Ministério da Educação da Malásia.
Na época em que iniciaram as lutas pela independência da Malásia ele ficou desempregado e foi diagnosticado com uma doença fatal. Tal fato, que se deu no ano de 1959, colocou o autor em uma ânsia de escrita, em razão do medo que sentia de deixar a esposa sem recursos financeiros.
No entanto, contrariando às expectativas, ele viveu até o ano de 1993, a sua esposa faleceu antes e, inclusive, ele se casou novamente.
Sempre quis ser compositor e chegou a compor algumas músicas, porém só conseguiu se destacar como escritor e apesar de ter escrito outros títulos, ganhou notoriedade com Laranja Mecânica, o seu 18º livro.
Suas obras sempre formam polêmicas e questionadoras, marcadas por grandes sátiras sociais. Pouco se sabe sobre ele, contudo, em uma entrevista que concedeu no ano de 1973 para a Paris Review e que foi republicada no livro Os Escritores 2: Paris Review, da Editora Companhia das Letras, no ano de 1989, ele mencionou questões que acabaram por revelar traços da sua personalidade. Confiram alguns trechos:
Burgess nasceu em 25 de fevereiro de 1917, em Manchester, Inglaterra. Filhos de pais católicos, sua mãe faleceu quando ele tinha apenas 2 anos de idade e ele foi criado pela tia, que posteriormente se tornou sua madrasta. Tal fato refletiu de forma intensa em sua vida e em sua produção literária.
Estudou inglês e literatura na Xaverian College and Manchester University e após a sua formatura, no ano de 1940, serviu por seis anos no Corpo de Educação do exército britânico durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, se tornou oficial na Ásia e professor, trabalhando, inclusive, no Ministério da Educação da Malásia.
Na época em que iniciaram as lutas pela independência da Malásia ele ficou desempregado e foi diagnosticado com uma doença fatal. Tal fato, que se deu no ano de 1959, colocou o autor em uma ânsia de escrita, em razão do medo que sentia de deixar a esposa sem recursos financeiros.
No entanto, contrariando às expectativas, ele viveu até o ano de 1993, a sua esposa faleceu antes e, inclusive, ele se casou novamente.
Sempre quis ser compositor e chegou a compor algumas músicas, porém só conseguiu se destacar como escritor e apesar de ter escrito outros títulos, ganhou notoriedade com Laranja Mecânica, o seu 18º livro.
Suas obras sempre formam polêmicas e questionadoras, marcadas por grandes sátiras sociais. Pouco se sabe sobre ele, contudo, em uma entrevista que concedeu no ano de 1973 para a Paris Review e que foi republicada no livro Os Escritores 2: Paris Review, da Editora Companhia das Letras, no ano de 1989, ele mencionou questões que acabaram por revelar traços da sua personalidade. Confiram alguns trechos:
- O senhor imagina um leitor ideal para seus livros?
O leitor ideal de meus romances é um católico relapso e músico fracassado, míope, daltônico, auditivamente tendencioso, que tenha lido os mesmos livros que eu. Deve, também, ter mais ou menos a minha idade.
- Na verdade, um leitor muito especial. Então o senhor escreve para um público limitado e muito instruído?
Onde teria Shakespeare chegado, se tivesse pensado apenas em um público especializado? O que fez foi tentar agradar a todos os níveis, com alguma coisa para os mais refinados intelectuais (que haviam lido Montaigne) e muito mais para os que apreciavam apenas sexo e sangue. Gosto de inventar um enredo que tenha um apelo moderadamente amplo. Mas, veja The waste land, de Eliot, muito erudito, que, talvez por seus elementos mais populares e seu apelo retórico básico, encantou os que a princípio não o entenderam, mas esforçaram-se e acabaram por entendê-lo: o poema, fim de linha das viagens polimáticas de Eliot, tornou-se ponto de partida para a erudição de outras pessoas. Penso que todo autor deseja formar seu público. Mas à sua própria imagem, e seu público inicial é o espelho.
- Importa-se com o que os críticos pensam?
Fico zangado com a estupidez de críticos que, obstinadamente, recusam-se a perceber do que meus livros tratam realmente. Noto malevolência, principalmente na Inglaterra. Crítica desfavorável, feita por alguém que admiro, magoa terrivelmente.
- O produto acabado é muito influenciado pelo fato de escrever o primeiro rascunho à máquina?
Não faço rascunhos. Escrevo a página número um muitas, muitas vezes, e passo para a página número dois. Empilho folha após folha, cada uma em seu estado definitivo e, finalmente, tenho um romance que - em minha opinião - não precisa de revisão.
- Então não faz nenhuma revisão?
A revisão, como expliquei, é feita a cada página, não a cada capítulo ou com o livro todo. Revisar todo um livro me deixaria entediado.
- O senhor mencionou que A clockwork orange tem um capítulo final na edição britânica que não consta das edições americanas. Isso o incomoda?
Sim, detesto ter duas versões diferentes do mesmo livro. A edição norte-americana tem um capítulo a menos e, por isso, o plano aritmológico fica atrapalhado. Além disso, a opinião implícita de que a violência juvenil é uma fase para se atravessar e depois superar está ausente da edição norte-americana; e isso reduz o livro a uma simples parábola, quando a intenção era que fosse um romance.
- O que acontece nesse vigésimo primeiro capítulo?
No capítulo 21, Alex torna-se adulto e percebe que a ultraviolência é um pouco enfadonha, e está na hora de arrumar uma esposa e uma coisinha delicada e adorável que o chame de papai. Essa era para ser uma conclusão de uma pessoa amadurecida, mas nos Estados Unidos ninguém gostou da idéia.
- Seria possível a uma editora americana publicar uma limitada edição de capa dura do livro que inclua o capítulo excluído como uma espécie de apêndice?
Creio que sim. A melhor maneira seria publicar uma edição comentada do livro, com o último capítulo - idéia que vem sendo recusada por meus editores, por alguma razão que desconheço. Eu estaria muito interessado nos comentários do estudante americano comum sobre as diferenças entre as duas versões. Porque agora não consigo julgar claramente se eu estava certo ou errado. Qual é a sua opinião, como se sente a respeito?
- Acho o último capítulo problemático, visto que, como cria um contexto completamente diferente para a obra, parece anticlimático, depois da hábil ressurreição do velho Alex no vigésimo capítulo.
Sei.
- Mesmo assim, deveria permanecer, porque o que o senhor quer dizer fica alterado pelo corte.
Bem, o pior exemplo que conheço de versão injustificada está em Parede's end, de Ford Madox Ford, onde, na edição britânica, publicada pela Bodley Head, Graham Greene chamou a si a responsabilidade de apresentar Parede's end como trilogia, dizendo não considerar o último romance, The last post, decisivo para o enredo, e que talvez Ford tivesse concordado com ele; portanto, tomou a liberdade de livrar-se do último livro. Penso que Greene está errado; penso que seja o que for que Ford tenha dito, a obra é uma tetralogia e fica seriamente mutilada com li perda do último livro, Não se pode confiar num autor para julgar esse tipo de coisa. Freqüentemente, os autores tentam ser indiferentes a suas obras. Com certeza ficam tão enjoados de seus livros que não querem emitir nenhum julgamento seno a respeito deles. O problema vem à baila quando se lê A handful of dust, de Evelyn Waugh, porque o terrível final (onde Tony Last passa o tempo todo lendo Dickens para um mestiço na selva) apareceu antes em um conto; e conhecendo o conto, a gente adota uma estranha atitude para com o livro. O que nos faz sentir que aqui esta mistura é deliberada, onde essa figura gigante que aparece no fim não brota automaticamente do livro, mas é apenas tirada arbitrariamente de outra obra. Talvez não se devesse saber demais sobre essas coisas. É claro que não se consegue evitar. As duas versões de Way of all flesh de Samuel Butler - isso levanta o problema. Que versão deveríamos preferir, qual é a versão correta? É melhor conhecer apenas uma, ignorar completamente o que estava acontecendo por trás da versão que conhecemos.
- Não é esse um argumento contra a publicação de A clockwork orange completo, já que a versão com vinte capítulos está gravada na mente de todo mundo?
- Não sei; ambas são relevantes. Parece-me que, em certo sentido, elas exprimem a diferença entre o modo britânico e o americano de encarar a vida. Pode ser que haja algo de muito profundo para se dizer sobre essa diferença nessas duas versões do romance. Não sei; não sou capaz de julgar.
- Em A clockwork orange e em Enderby, principalmente, há um persistente tom de chacota para com a cultura da juventude e sua música. Existe alguma coisa de bom nela?
Desprezo tudo que é obviamente efêmero, e no entanto é tratado como se possuísse alguma espécie de valor supremo. Os Beatles, por exemplo. A maior parte da cultura da juventude, principalmente a música, é baseada no pouco conhecimento da tradição e, com frequência, eleva a ignorância à condição de virtude. Pense nos musicalmente ignorantes que se estabelecem como "arranjadores". E a juventude é tão conformista, tão pouco preocupada com valores dissidentes, tão orgulhosa de ser em vez de fazer, tão segura de que ela e somente ela sabe.
Em sua opinião, existem limites que um autor deve observar na linguagem usada para apresentar um assunto controverso?
Minha aversão a descrever detalhes amorosos em minha obra deve-se provavelmente ao fato de eu dar tanto valor ao amor físico que não desejo admitir estranhos nele. Pois, afinal de contas, quando descrevemos a cópula, estamos descrevendo nossas próprias experiências. Gosto de privacidade. Penso que outros escritores devem fazer o que podem e, se conseguem preencher - como fez uma de minhas alunas americanas - dez páginas sobre o ato de felação sem se sentir embaraçados, desejo-lhes boa sorte. Mas creio que se possa obter um prazer artístico maior com a engenhosa delimitação de um tabu do que com o que é chamado de total permissividade. Quando escrevi o primeiro romance sobre Enderby, tive de fazer o herói dizer "Dane-se", já que "Foda-se" não era aceitável. Com o segundo livro, o clima havia mudado e Enderby tinha liberdade de dizer "Foda-se". Eu não quis. Era fácil demais. Ele continuou a dizer "Dane-se", enquanto os outros respondiam com "Foda-se". Um meio-termo. Entretanto, a literatura floresce com os tabus, assim como toda arte floresce com as dificuldades técnicas.
- Há vários anos, o senhor escreveu: "Creio que o Deus errado está governando temporariamente o mundo e que o Deus verdadeiro foi derrotado", e acrescentou que a vocação do romancista o predispõe a essa visão maniqueísta. Ainda acredita nisso?
Ainda conservo essa crença.
As versões cinematográficas ajudam ou atrapalham os romances?
Os filmes ajudam os romances em que se baseiam, pelo que fico ao mesmo tempo grato e ressentido. A edição de bolso de Clockwork orange vendeu mais de, um milhão de cópias nos Estados Unidos, graças ao caro Stanley. Mas não gosto de ser visto apenas como um mero criador de filmes. Desejo ser bem-sucedido por meio da literatura pura. Impossível, é claro.
A integra da entrevista pode ser conferida no site Tiro de Letra e tem vários pontos de vista interessantes. Vale conferir!
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