Maiesse Gramacho (35) nasceu e vive em Brasília. Jornalista há 13 anos, participou da redação de publicações institucionais em diversos órgãos onde atuou profissionalmente. Também foi cronista em dois jornais da cidade, entre 2004 e 2006. Em 2010 publicou seu primeiro livro, Histórias mínimas, de minicontos. Em 2011 foi a vez de Sobre medos e flores, obra que reúne algumas de suas crônicas publicadas nos jornais brasilienses mais algumas inéditas. Em 2013, publicou Azul inalcançável, que mescla minicontos e contos. Maiesse é neta do poeta e tradutor baiano Jair Gramacho, ex-professor da Universidade de Brasília (UnB).
Maiesse, mesmo sendo repetitivo, não tem como fugir da pergunta: como você descobriu a paixão pela escrita?
Sou filha de um professor de literatura e de uma psicóloga; fui muito estimulada. Meus pais compravam livrinhos para mim, liam, me contavam histórias, casos... Com uns cinco anos eu já era frequentadora assídua de uma livraria de Brasília, a Sodiler, que funcionava no shopping Conjunto Nacional. Ia com meu pai pelo menos uma vez por semana para comprar livros de historinhas e outros de pintar. Sentia uma alegria imensa. Na escola, desde cedo, minhas matérias preferidas eram português, literatura e redação. Principalmente redação. Com o passar do tempo, esse amor, esse fascínio pelos livros e pela escrita foi crescendo e se fortalecendo. Pensei em cursar Letras, como meu pai. Depois, acabei optando pelo Jornalismo, por possuir um mercado de trabalho mais amplo e por me propiciar experiências que, mais tarde, posso transformar em literatura.
Nos seus livros você fala sobre os sentimentos de forma profunda e sincera. A impressão que tenho é que retrata as suas experiências pessoais, estou certa quanto a isso? Se sim, o que te impulsiona a escrever sobre você?
Sim, está certa. Eu diria que 80% do que está escrito nos meus livros é material autobiográfico. O que me impulsiona a escrever sobre mim... Bem, eu poderia usar uma frase que a grande pintora Frida Kahlo disse quando a questionaram por que ela pintava tantos autorretratos: Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor. Eu escrevo sobre as coisas que vivencio porque, sobre elas, posso deitar toda a minha sensibilidade. Sem medo de errar.
No livro “Histórias mínimas” você retrata a sensualidade de forma bem direta, mas ao mesmo tempo sensível. O que te levou a abordar o assunto?
Porque eu acho que a sensualidade deve ser vivenciada sem rodeios ou receios. E também porque acho que a “melhor” sensualidade – se é possível dizer assim – é aquela que não apela à vulgaridade, à baixeza. Por isso, nos meus livros, tento sempre tratar do assunto com delicadeza – ou, como você mesma escreveu, com sensibilidade.
No livro “Sobre medos e flores” tem uma crônica interessante chamada “Recomeço”, em que você retrata o amadurecimento de uma mulher e a forma como ela passa a ver o mundo após os 31 anos de idade. Em sua opinião, essa mudança na forma de ver o mundo é positiva ou negativa? Ao que parece, com 31 anos o olhar deixa de ser romantizado e passa a ser mais racional. É isso?
Sim, mas é uma questão muito particular. No meu caso, perdi essa visão “romântica” da vida depois dos 30. Mas esse processo pode acontecer antes ou depois, dependendo da história de vida de cada um, bem como das experiências ao longo do caminho...
Na “Nota da autora” do livro “Azul inalcançável”, seu último trabalho, você diz que está com mais certeza. A que atribui essa mudança?
Na verdade, eu digo o contrário: que sou uma mulher com menos certezas. Com o passar do tempo, com o processo de amadurecimento, a gente deixa de ter “opiniões formadas sobre tudo”, passamos a relativizar mais, a ser mais complacentes conosco e com o próximo.
Entre os três livros que já publicou algum te cativa de forma especial?
Gosto de todos igualmente. Cada um tem uma história, um por quê. Cada um representa um momento da minha vida. Não tenho como dizer qual o preferido. O que posso dizer é que, hoje, o que mais se identifica com a pessoa que sou é “Azul inalcançável”.
Os seus livros trazem contos e microcontos. O que te atrai nesse estilo de texto?
Gosto de narrativas curtas, objetivas. Talvez por influência do jornalismo, vai saber. No caso dos microcontos, também me fascinam as elipses narrativas, que dão ao leitor um “espaço” enorme para preencher a história com sua própria imaginação.
Tem vontade de escrever um romance?
Vontade eu tenho, só não sei se tenho talento, fôlego! Estou “grávida” de um tema, mas ainda não sei se o desenvolverei em contos, em uma novela ou em um romance. O tempo dirá. Estou indo bem devagar...
Os seus livros são publicações independentes. Por que optou por isso ao invés de procurar uma editora?
Na verdade, eu procurei uma editora, mas banquei a publicação. Quando se é um autor desconhecido, o caminho invariavelmente é este: bancar a publicação. Depois de três livros publicados, penso em negociar, para o próximo, pelo menos uma parceria do tipo 50% dos custos para cada parte. Vamos ver o que acontece. O mercado editorial é muito fechado para novos autores. O que se vê são os escritores renomados com muito espaço, muitas novas edições de seus velhos sucessos, mas para os novos, nada – ou quase nada. As editoras parecem ter medo de apostar no novo. Eu até entendo, do ponto de vista econômico. Mas admiro mesmo é quem se arrisca a apresentar ao público novas vozes.
Seu blog, “Arquipélago da memória” tem crônicas inéditas? Que tipo de postagens você costuma fazer por lá?
Às vezes posto alguma crônica, sim. Mas o blog é mais um espaço para pequenos comentários, impressões, dicas. Como não participo de nenhuma rede social, publico nele o que me vem à cabeça. E lê quem quer, quem realmente está interessado em saber o que ando fazendo, pensando, escrevendo.
Em sua opinião, qual o melhor livro de crônicas nacionais?
Pergunta difícil! Gosto demais das crônicas do Fabrício Carpinejar, da Martha Medeiros e do Affonso Romano de Sant’Anna.
Qual escritor você considera de leitura obrigatória para aqueles que amam ler?
Em se tratando de literatura nacional, citaria Graciliano Ramos. “Vidas secas”, na minha modesta opinião, é o melhor livro já escrito por um brasileiro. Em se tratando de literatura internacional, quem ama ler deve, obrigatoriamente, conhecer a obra de Franz Kafka. É literatura com L maiúsculo.
Tem algum filme que retrata a alma feminina com uma visão bem próxima da sua?
Sim, e é baseado no livro homônimo de Milan Kundera: “A insustentável leveza do ser”. Tenho muito da Sabina, tenho muito da Tereza. E a maneira como o filme (e o livro) aborda questões do feminino é bastante próxima de como eu tento tratá-la em minha literatura.
Podemos esperar novos trabalhos?
Sim, claro. Só não sei dizer quando nascerá o próximo “filho”. Como disse anteriormente, estou “grávida” de uma ideia, mas ainda não comecei a colocá-la no papel. Estou apenas pensando nela, refletindo, estudando, pesquisando. Na hora certa, ela vai preencher a página em branco à minha frente.
Deixe sua mensagem para os que têm o sonho de publicar um livro.
Se tiver condições, publique. Mas, antes, avalie com honestidade se há valor literário no seu trabalho. Para isso, peça opinião, mostre a pessoas que podem dar dicas, toques, sem bajulação. Não publique nada impulsivamente. Deixe maturar. E leia sempre e muito. Ler obras de outros escritores tem um reflexo extremamente positivo no nosso trabalho, pois pode nos mostrar se estamos no caminho certo, se o que estamos fazendo é, de fato, literatura.
*Já falamos dos livros da Maiesse
aqui no blog. Confiram e se encantem!
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